O despacho de acusação do caso de Tancos originou reações em cadeia de todo o espectro político. Em plena campanha, nenhum líder dos partidos com assento parlamentar recusou comentar as conclusões do Ministério Público e a exigir responsabilidades. Se António Costa comentou a notícia relativamente à possibilidade de não ter defendido Marcelo neste caso, o primeiro-ministro preferiu desvalorizar. A crítica mais acérrima chegou ao final da tarde com Rui Rio a ser taxativo: “Costa ou sabe ou não sabe e ambas as hipóteses são más”.
Marcelo “acima de qualquer suspeita”
O secretário-geral do PS afirmou hoje que o Presidente da República está “acima de qualquer suspeita sobre o que quer que seja” e defendeu que há notícias, designadamente sobre Tancos, que não devem ser levadas em consideração. No final da arruada dos socialistas em Moscavide, município de Loures, António Costa foi confrontado com o teor de uma notícia do semanário Expresso sobre o processo de roubo de armas na base militar de Tancos, segundo a qual Belém tinha registado que o primeiro-ministro não defendera o Presidente da República em relação a tentativas para envolver Marcelo Rebelo de Sousa no caso. “Como sabem, há notícias que não se podem ter em conta nem levar em consideração. Se fosse comentar cada notícia que aparece a dizer os maiores disparates sobre mim, sobre o Presidente da República, ou sobre quem quer que seja, não faria rigorosamente mais nada”, reagiu o secretário-geral socialista. Depois, em relação à situação em concreto de Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa declarou: “Quanto ao senhor Presidente da República, creio que está acima de qualquer suspeita sobre o que quer que seja”.
“Costa ou sabe ou não sabe e ambas as hipóteses são más”
Rui Rio reagiu esta quinta-feira ao despacho de acusação do Ministério Público que acusou 23 arguidos relativamente ao caso de Tancos e realçou que é “pouco crível” que António Costa não soubesse desta situação. “Costa ou sabe ou não sabe e ambas as hipóteses são más”, realçou o líder partidário. “O que se terá passado ao longo desses quatro anos dentro do Governo que o primeiro-ministro não soube e o que poderá de acontecer de importante no futuro, num Governo presidido pelo dr. António Costa, que o dr. António Costa pura e simplesmente não saiba?”, interrogou. Questionado se as recentes notícias que envolveram o nome do Presidente da República no caso Tancos podem ser uma “encenação” do Governo, Rio respondeu afirmativamente. “Tudo leva a crer que sim. Por parte do Governo, para que saíssem notícias a tentar pôr uma cortina de fumo. Dá-me ideia que é bem provável que possa ter acontecido”, respondeu.
Catarina Martins: “É muito grave”
A coordenadora do Bloco de Esquerda (BE), Catarina Martins, também comentou o caso e considerou hoje que é muito grave, caso o Ministério Público tenha razão, concluir que “responsáveis políticos mentiram numa comissão de inquérito” sobre o caso de Tancos. “Parece-nos muito grave chegar à conclusão, se o Ministério Público tiver razão – o processo, a justiça o fará – que responsáveis políticos mentiram numa comissão de inquérito”, defendeu Catarina Martins, no final de uma ação de campanha no centro de saúde da Moita, distrito de Setúbal.
CDS: Governo PS “encobre criminosos”
A líder do CDS-PP, Assunção Cristas, acusou hoje o Governo do PS de “encobrir criminosos” e impedir “a justiça de funcionar” no caso do furto de Tancos e exigiu “explicações públicas” do primeiro-ministro, António Costa. “Espero que as pessoas reflitam muito bem no dia 6 sobre que tipo de governo querem ter. Se querem ter um governo que encobre crimes, que iliba criminosos, que impede a justiça de funcionar, porque aparentemente conhece e dá cobertura a um acordo que impede que os responsáveis pelo furto sejam efetivamente apanhados e punidos” ou “se entendem que basta”, disse Assunção Cristas a meio de uma ação de campanha eleitoral em Lamego, distrito de Viseu.
Jerónimo de Sousa: “Ninguém está acima da lei”
O secretário-geral comunista afirmou hoje que “ninguém está acima da lei”, sobre notícias de que o ex-ministro Azeredo Lopes vai ser acusado no processo judicial sobre a operação de recuperação das armas de Tancos. “Ninguém está acima da lei. Tendo em conta a acusação, que haja de facto esse julgamento e a decisão. A decisão é dos tribunais, fazendo com que a justiça funcione. Ninguém está acima da lei”, sublinhou, após questionado sobre as notícias hoje publicas em alguns jornais referindo que o ex-ministro da Defesa Nacional Azeredo Lopes iria ser acusado no processo judicial de Tancos.
PAN defende combate à corrupção
O porta-voz do PAN (Pessoas-Animais-Natureza), André Silva, afirmou hoje, em Faro, que o combate à corrupção e a criação de mecanismos de transparência será uma das linhas vermelhas do partido para viabilizar uma solução governativa. Questionado sobre o processo de Tancos, em que o ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes foi acusado de três crimes, André Silva preferiu falar da sua visão para o país, defendendo que uma das linhas vermelhas do PAN para aprovar uma solução governativa após as eleições será o combate à corrupção e a criação de mecanismos de transparência. “Quando me falam muitas vezes em linhas vermelhas para a aprovação ou acompanhamento de uma solução governativa, a visão para o país sobre os mecanismos de transparência, de representação e conflito de interesses e de combate à corrupção tem de ser alterada”, vincou o cabeça de lista do PAN por Lisboa, que falava após a participação no Fórum TSF, no centro de Faro.
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