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Christine Lagarde não vai mexer na ‘muleta’ monetária da zona euro

Depois da promessa e execução da aceleração da compra de ativos em março, o Conselho de Governadores do BCE não deverá anunciar novidades esta quinta-feira. Lagarde irá reiterar a necessidade de manter o apoio à economia e aos mercados, mas poderá ter de responder a perguntas sobre o crescente debate interno em torno do futuro da política monetária.
22 Abril 2021, 08h00

Christine Lagarde optou por uma imagem clínica para descrever os cuidados que a economia da zona euro ainda precisa.  “Pense num paciente que saiu de uma crise profunda, mas ainda usa duas muletas”, disse a presidente do Banco Central Europeu (BCE) na semana passada. “Não se quer remover qualquer muleta, orçamental ou monetária, até que o paciente possa realmente andar bem”, disse, salientando que isso significa manter o apoio mesmo quando a recuperação estiver bem avançada.

Depois de aumentar a dose da medicação em março, a reunião do Conselho de Governadores desta quinta-feira deverá ser uma consulta de rotina, deixando para junho um diagnóstico mais detalhado com novas projeções.

“O BCE manterá as taxas de juro no nível atual e deixará inalterada a dimensão do programa de aquisição de ativos”, explicaram os analistas do BPI. “De recordar que, na reunião anterior, o BCE anunciou um aumento ‘significativo’ no ritmo de compras no âmbito do PEPP [Programa de compra de emergência pandémica] pelo menos durante o segundo trimestre, para evitar um maior aperto das condições financeiras”.

Adiantaram que algumas semanas após este anúncio, o ritmo semanal de compras “aumentou moderadamente, devido, em parte, às férias da Páscoa, pelo que é provável que Christine Lagarde antecipe um ritmo de compras mais elevado nas próximas semanas”.

Franck Dixmier, global CIO fixed income da Allianz Global Investors (GI), referiu que é claro que o BCE vai reiterar a vontade de manter condições financeiras mais favoráveis, especialmente porque a mensagem tem sido eficaz até agora.

O alerta do BCE sobre os juros teve os resultados esperados, adiantou, apontando para o facto de os juros de longo prazo se terem estabilizado, com o Bund alemão a passar de um mínimo de -0,64% em dezembro de 2020 para -0,27% em meados de abril, um aumento de 37 pontos-base (p.b.), face a um aumento de 70 p.b. nos títulos do Tesouro dos EUA a 10 anos no mesmo período.

Dixmier recordou que as atas da reunião de 11 de março mostram que o banco central não pretende aumentar o envelope global do PEPP de 1.850 biliões de euros, o que significa que o aumento nas compras de ativos no final de março terá de ser compensado mais tarde. Além disso, a calibração das compras do BCE vai ser revista trimestralmente, lembrou.

“Divisão latente”

O analista da Allianz GI salientou que há, no entanto, “uma divisão latente no BCE entre aqueles que são a favor de uma política monetária agressiva por muito tempo e aqueles que defendem uma retirada gradua”.

“Essa divisão surgiu nas atas da reunião de 11 de março, mas ainda não veio à tona. O debate emergirá mais cedo ou mais tarde”, adiantou. Entretanto, a conjuntura económica atual permite ao BCE continuar a justificar a sua política acomodatícia e adiar o debate sobre a desconexão dos seus instrumentos.

Os analistas do Danske Bank referiram que os dados económicos publicados desde a reunião de março “apoiam a narrativa do BCE que a recuperação está atrasada, mas não descarrilou”.

Enquanto os confinamentos foram prolongados ou reintroduzidos numa série de países, sondagens sobre empresas e consumidores sugerem que a economia da zona euro permanece bastante resiliente à luz dos novos ventos contrários, explicaram.

A atividade manufatureira acelerou no final do primeiro trimestre, com o índice PMI da Alemanha a atingir um novo recorde histórico de 66,6. As restrições no sector dos serviços continuam a ser um entrave ao crescimento, mas o PMI compósito da zona euro voltou a subir para território de expansão em 53,2 pela primeira vez desde setembro, sugerindo que uma tímida recuperação tomou forma no final do primeiro trimestre, recordaram.

“As perspetivas empresariais otimistas nos setores de manufatura e serviços, a melhoria da confiança dos consumidores e um mercado de trabalho resiliente oferecem um cenário sólido para que a recuperação acelere no segundo trimestre, à medida que as vacinações aumentam e as restrições podem ser reduzidas”, disseram os analistas do banco dinamarquês.

“No entanto, apesar da nossa expectativa que o setor manufatureiro poderá perder parte do ímpeto de crescimento nos próximos meses, à medida que a desaceleração da atividade empresarial chinesa tem efeitos, esperamos que o BCE transite na reunião de abril para um avaliação de risco equilibrado para as perspetivas de crescimento”, concluíram.

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