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No contexto digital, bancos têm de optar entre escala e especialização, diz Carlos Costa

No Fórum Banca 2018, organizado pelo Jornal Económico e pela PwC, em Lisboa, o governador do Banco de Portugal salientou que a transformação digital representa um desafio, mas também uma oportunidade para os bancos.
Cristina Bernardo
29 Novembro 2018, 10h11

As alterações tecnológicas apresentam um desafio, mas também uma oportunidade para os bancos portugueses, que vão ter de optar entre a escala e a especialização para adequar os produtos a uma segmentação fina do mercado, afirmou esta quinta-feira Carlos Costa, Governador do Banco de Portugal.

“Os bancos portugueses estão hoje confrontados com um problema de transformação do seu modelo de negócio, de forma a responder às alterações tecnológicas e ao aparecimento de novos tipos de concorrentes”, afirmou Carlos Costa, no Fórum Banca 2018, organizado em Lisboa pelo Jornal Económico e a PwC.

O regulador explicou que depois de uma redução significativa do investimento nos sistemas de informação nos últimos 10 anos, os bancos caracterizam-se hoje pela pouca agilidade para tratar grandes quantidades de informação em tempo quase real.

“Trata-se de um desafio, mas também de uma oportunidade. Há novos concorrentes que, seguramente, vão disputar o mercado tirando partido das extensas bases de dados e da sua capacidade analítica e de processamento de informação. E há outros concorrentes que tanto podem disputar nichos de mercado como podem ser entidades complementares ou parceiras”, adiantou.

“Neste novo enquadramento, as instituições financeiras terão que optar entre escala ou especialização, tendo em conta a respetiva capacidade para adequar os produtos a uma segmentação fina do mercado”, frisou o Governador do banco central.

Proximidade e confiança

Carlos Costa explicou ainda que a escala permite a otimização dos custos de produção e a salvaguarda da margem de produtos financeiros destinados ao mass market e que as instituições que não tenham capacidade para atingir a escala requerida terão que equacionar um posicionamento em que vão operar.

Nesta equação, poderão posicionar-se como redes complementares de distribuição de produtos financeiros produzidos por terceiros, num modelo de distribuição tipo ‘marca branca’, em que recolhem e aplicam os fundos de clientes. “O seu ativo será a proximidade e a confiança dos clientes locais cuja poupança vão captar e investir em produtos disponibilizados por quem tem escala de produção e de dispersão e mitigação do risco”, salientou.

Adicionalmente, poderão operar como redes de financiamento de pequenas empresas que requerem uma relação de proximidade na avaliação do risco.

O governador alertou que a pressão para reduzir custos e acompanhar o desenvolvimento tecnológico tenderá a criar um novo paradigma de organização assente na compra de serviços a terceiros (outsourcing), sempre que os bancos não tenham escala para garantir a rentabilização das correspondentes infraestruturas ou a mobilização e reciclagem das competências exigidas.

Investimento em tecnologia: 10 a 15% do rendimento

“Trata-se de uma externalização de funções que decorre da necessidade de comprimir custos e garantir a apropriação dos desenvolvimentos tecnológicos em áreas de suporte, mas determinantes, da prestação de serviços. Essa externalização vai ocorrer tanto com as grandes como com as pequenas instituições financeiras”, adiantou.

Segundo Carlos Costa, isto significa que os bancos passarão, assim, a ficar dependentes de uma rede de fornecedores que também irão contribuir para o risco sistémico: “Ou seja, os bancos serão a face visível de uma complexa malha de prestadores de serviços”.

Para assegurar níveis adequados e sustentáveis de rendibilidade, os bancos terão de reformular o modelo de negócio para plataformas digitais com graus de sofisticação elevados, com vias garantir a atratividade dos produtos e serviços fornecidos e a lealdade dos clientes e aumentar a capacidade para segmentar o mercado, através da discriminação do risco das operações e do fine tuning do pricing.

As instituições financeiras terão ainda de assegurar investimentos em tecnologia, que em ‘velocidade cruzeiro’ deverão corresponder a 10% a 15% do rendimento, recrutar competências adequadas ao novo modelo de negócio e à gestão do risco cibernético e ter modelos de governação que permitam uma resposta adequada em termos de compliance e de cumprimento das regras prudenciais, concluiu Carlos Costa.

[Atualizada às 10h17 ]

 

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