Não existem países vencedores no contexto global da pandemia. Um mapa que circula nas redes sociais, assinalando os principais parceiros comerciais de cada nação, explica facilmente porquê: em alguns poucos casos que confirmam a regra, a preponderante fonte para a balança comercial é o mais próximo e natural vizinho geográfico. Daí a relevância da Espanha para Portugal, ou da França para o Luxemburgo.

No entanto, o relacionamento mais dominante é o da Alemanha face ao Reino Unido, ou da Alemanha face à França, Itália, Espanha ou, basicamente, a quase toda a Europa, com exceção dos exemplos inicialmente citados e de alguns dos países saídos da antiga URSS e, hoje ainda, na esfera de influência da Rússia.

Como é óbvio, no contexto dominó de uma crise com os contornos daquela que agora atravessamos e numa lógica de mercado global, por mais saudável que um país possa estar de pouco lhe serve essa saúde, se estiver rodeado de outros cujo estado de depressão económica os impede de importar e de consumir bens e serviços.  Mas, dito isto, uns países estão com mais saúde do que outros e, na Europa, nenhum está melhor – ou menos mal – do que a Alemanha.

Disso mesmo fez eco há uns dias o “New York Times”, respondendo na primeira página à pergunta sobre que país triunfará após a pandemia e ressalvando que, sob a liderança de Merkel (que subiu a sua popularidade de uns negativos 40% pré-Covid-19 para uns expressivos 70% agora), a Alemanha conseguiu manter o desemprego em apenas 6% e assegurar a continuidade do seu tecido empresarial.

Para isso, tal como o diário norte-americano destacou, foi fundamental a atribuição – durante o período de confinamento – de apoios diretos às empresas e famílias providenciados pelo Estado sem recurso a intermediários no sistema bancário e creditício, como aliás sempre defendi e já aqui referi há meses ter sido a proposta do CDS-PP, em má hora chumbada pelos socialistas.

Expandindo o Kurzarbeit, um modelo de compensação aos cidadãos cujo valor dos benefícios atribuídos depende de quão relevantes forem as perdas financeiras após o pagamento de impostos, reduzindo significativamente a carga fiscal e garantindo empréstimos de forma fácil e expedita, o governo alemão atribuiu no total ajudas equivalentes a 55% do PIB nacional. Quatro vezes mais, como salienta o “New York Times”, do que os EUA em proporção face ao PIB.

Após a leitura desse artigo, da autoria de Ruchir Sharma, Chief Global Strategist do Morgan Stanley Investment Management, fica infelizmente evidente que não havendo propriamente vencedores há, certamente, países que lidam melhor do que outros com a pandemia, o decorrente aumento da dívida pública, o movimento geral de desglobalização e o acelerar da economia de base industrial para outra assente na digitalização, na robótica e no recurso às inteligências artificiais.

Na famosa frase popularizada por Gary Lineker: “O futebol é um jogo para 11 de cada lado e no final ganha a Alemanha”. Ao que tudo indica, a haver algo a ganhar no final de tudo isto, ou pelo menos a não perder, também serão os alemães. Infelizmente, por cá, não aprendemos ou não quisemos seguir-lhes o exemplo. E não certamente por falta de aviso.

 

Chegado agosto, muitos portugueses não farão férias. Mas aqueles que optarem por isso viajarão naturalmente em direção às suas zonas de origem, para um reencontro com a família e os amigos. Infelizmente, nunca é demais alertar para a importância de – mesmo com aqueles de quem sentíamos saudade e cujo abraço ansiávamos – manter as regras e distâncias de segurança. É precisamente por amor a quem mais gostamos que devemos ter todo o cuidado em nada fazer que os possa colocar em risco. Boas férias, saúde e paz é o que desejo a todos vós.

 

Canal Direto é o canal de comunicação aberto que mantenho com todos os leitores.