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No primeiro dia, a Altice Arena encheu-se para ouvir Snowden (e muitos ficaram à porta)

A polémica não ficou à porta da Web Summit. Edward Snowden foi o cabeça de cartaz da sessão de abertura, seguido por Guo Ping, rotating chairman da Huawei. Mas no palco da mega-cimeira de tecnologia houve também espaço para nomes femininos que dão cartas no mundo tecnológico e na sustentabilidade.
  • 4 November 2019; Edward Snowden, President, Freedom of the Press Foundation, on Centre Stage during the opening night of Web Summit 2019 at the Altice Arena in Lisbon, Portugal. Photo by Piaras Ó Mídheach/Web Summit via Sportsfile
5 Novembro 2019, 07h48

Foi em vídeo-chamada perante uma Altice Arena com lotação esgotada que Edward Snowden disse que a tecnologia não protege os cidadãos, já que os próprios serão os únicos com capacidade para tal. O homem que expôs o sistema de surveillance dos Estados Unidos não ignorou que se dirigia a uma plateia de fãs e entusiastas de tecnologia e abriu as hostilidades da mega-cimeira que faz de Lisboa palco até quinta-feira, mostrando porque é que este já se tornou mais do que um evento de empreendedorismo, querendo apontar caminhos para o futuro.

A privacidade e a segurança voltam a ser centrais nesta edição. Depois do destaque dado no ano passado ao escândalo Facebook-Cambridge Analytica, este ano Snowden foi o cabeça de cartaz, a numa ligação escutada por centenas de pessoas à porta do Altice Arena, que não conseguiram entrar no recinto.

A mensagem de Snowden foi clara: a privacidade e a segurança está nas mãos de cada um, já que as empresas e os governos têm agendas próprias. “Os dados são sobre as pessoas. Não são os dados que são manipulados, são as pessoas”.

É por esta razão que “não podemos confiar em ninguém”, realçou, considerando que as empresas “agem em prol delea mesmas e não em prol das pessoas” e que “os dados são sensíveis ao sistema destas gigantes”, apontando como exemplo a Nokia e a Huawei.

A referência à gigante tecnológica não amedrontou caminho a Guo Ping, rotating chairman da Huawei, o orador que se seguiu para destacar que o impacto do 5G.  “As novas experiências proporcionadas pelo 5G têm sido recebidas de forma calorosa pelos consumidores e mais de 60 redes comerciais de 5G deverão estar operacionais até ao final do ano”, afirmou Guo Ping.

No entanto, o chairman da Huawei não fez referência aos problemas que a gigante chinesa têm enfrentado nos Estados Unidos, onde tem sido acusada de espionagem tecnológica, preferindo centrar-se no que chamou de “oportunidade dourada”.

Para ilustrar o apetite dos consumidores, Guo Ping referiu que na Coreia do Sul um milhão de utilizadores aderiu à tecnologia 5G nos primeiros 69 dias, muito menos que os 150 dias que levou no caso do lançamento do 4G.

Guo Ping encorajou a comunidade mundial de developers a usar essa tecnologia com outras, no chamado ‘5G + X’. O ‘X’ nessa fórmula inclui a Inteligência Artificial, o big data e a realidade aumentada ou virtual.  Essa combinação poderá dar início a uma nova onda de crescimento, tal como o fez a eletricidade no século XX”.

“A chegada do 5G é uma benesse para os operadores pois um utilizador médio de 5G consome três vezes mais dadoos do que um de 4G. Com alta velocidade, latência ultra-baixa e ligações enormes, o 5G assegura uma experiência superior para a Internet das Coisas”, vincou.

A tecnologia também vinga no feminino 

No primeiro dia de Web Summit celebrou-se Lisboa como cidade de inovação, as mulheres presentes na tecnologia e amaldiçoou-se a tecnologia enquanto Big Brother espião.

No palco central, depois de Edward Snowden e antes de Guo Ping, as mulheres dominaram. Daniela Braga e Michelle Zatlyn são apenas dois exemplos de como a tecnologia pode ter capitãs à frente do navio.

Escolher os investidores e não ser escolhido por investidores é um dos passos para o sucesso. Quem o disse foi Daniela Braga, CEO da DefinedCrowd, que desde os 22 anos era a única mulher na sala, e agora lidera uma empresa com 42% de mulheres.

Michelle Zatlyn optou por falar do novo escritório em Lisboa da Cloudflare, empresa de cibersegurança. Apesar de admitir que no princípio não achar que Lisboa não fosse uma opção a considerar, mudou de ideias após verificar o talento e qualidade de vida existentes na capital portuguesa.

Como a tecnologia pode ajudar no combate à crise hídrica

Porque nem só de nomes polémicos se fez a sessão de abertura da Web Summit, os fundadores de três ONG dedicadas ao acesso a água potável e saneamento subiram ao palco para debater a crise hídrica no mundo. Paul O’Callaghan, Gary White e Jaden Smith alertaram para um cenário critico que, apesar de parecer distante, “está mais perto que parece”.

Atualmente existem 70 milhões de pessoas sem acesso à água, enquanto cerca de dois mil milhões vivem sem saneamento da água. Para o fundador da CEO Blue Tech a solução “somos nós”. Já o cofundador da Water.org e WaterEquity, Gary White, referiu “não ser suficiente estar atento ao problema, mas sim tomar ação”, numa altura em que cada vez mais a água se torna numa vítima das alterações climáticas.

O jovem empreendedor da Just Water e 501TCHREE subscreveu as palavras dos oradores anteriores e falou no papel ativo que tem tido em Flint, Michigan. Há cinco anos que a cidade norte-americana se encontra em stress hídrico e o acesso à àgua potável é cada vez menor: “Queremos dar às pessoas mais água limpa em Flint com sistemas de filtragem. Inicialmente, queria lançar isto em África e em todo o mundo, mas pensei: tenho de fazer isto no meu quintal”.

Jaden aproveitou para referir que atualmente existem três caixas de filtragem de água em Flint para ajudar a resolver o problema da comunidade e que a empresa prepara-se para instalar mais duas no próximo ano.

Porém, a palavra foi-lhe cortada. Enquanto respondia às ultimas questões colocadas por Laurie Segall, jornalista da CNN e fundadora e diretora da Dot Dot Dot Media, a música que sinalizava o fim do tempo começou a tocar e os oradores saíram todos de palco.

Fernando Medina e Siza Vieira deram o pontapé de entrada na cimeira tecnológica ao carregar no botão. O presidente da CML e o novo ministro de Estado descreveram Lisboa como a cidade a ter em conta e como a capital da inovação, onde a Web Summit vai acontecer até 2028.

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