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Nova dieta global pode preservar o planeta e salvar 10 milhões de vidas

Se a nova dieta for adotada globalmente, entre 10,9 a 11,6 milhões de mortes prematuras poderão ser evitadas a cada ano – o que equivale entre 19% a 23,6% das mortes entre adultos. Uma redução no sódio e um aumento nos grãos integrais, nozes, vegetais e frutas contribuirão para a prevenção de mortes, de acordo com um dos modelos do relatório.
17 Janeiro 2019, 15h00

Uma equipa internacional de cientistas desenvolveu uma dieta que pode melhorar a saúde pública, garantindo a produção sustentável de alimentos para reduzir os danos ao planeta. Esta dieta baseia-se na redução do consumo de carnes vermelhas e de açúcar pela metade e no aumento da ingestão de frutas, legumes e nozes.

A dieta foi publicada na revista médica ”The Lancet’, na passada quarta feira, que vinca que uma mudança global na dieta e na produção de alimentos é ”urgente”, dado que 3 mil milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de desnutrição e a produção de alimentos está ultrapassar as metas ambientais, impulsionando mudanças climáticas, o fim de biodiversidade e a poluição.

A população mundial deverá atingir os 10 mil milhões de habitantes até 2050 e por essa razão os vários cientistas alertam para a gravidade da atual situação ambiental. ”Está muito em jogo”, disse o editor executivo da revista, Richard Horton que observa um desequilibro a nível mundial, sendo que cerca de mil milhões de pessoas vivem com fome e duas  mil milhões comem muito dos alimentos errados.

Walter Willett, principal autor do estudo e professor de epidemiologia e nutrição da Faculdade de Harvard, sugere no relatório cinco estratégias para garantir que as pessoas mudem as suas dietas e não prejudiquem o planeta. Assim, incentivam uma alimentação mais saudável entre os pares, promovem alterações na produção global para uma mais variada, impulsionam uma agricultura de forma sustentável, regras mais rígidas sobre a gestão dos oceanos e território e, por fim, reduzem o desperdício de comida.

No geral, garantir uma população e um planeta mais saudáveis ​​requer a combinação de todas as estratégias – grandes mudanças na dieta, melhoria na produção de alimentos e mudanças tecnológicas, bem como redução do desperdício de alimentos.

”A Dieta de Referência”

À dieta é dado o nome de ”dieta de referência” e foi concebida, idealmente, para adultos e crianças com mais de 2 anos. Os cientistas acreditam que com esta dieta poderão reduzir doenças crónicas, doenças arteriais coronarianas, derrames e diabetes.

No fundo, a dieta desconstrói a ingestão diária ideal de grãos integrais, vegetais ricos em amido, frutas, lacticínios, proteínas, gorduras e açúcares, representando uma ingestão calórica total diária de 2,500 calorias.

Eles reconhecem a dificuldade da tarefa, que necessitará de mudanças alimentares “substanciais” a nível global, precisando que o consumo de alimentos, como carne vermelha e açúcar, diminua em mais de 50%. Por sua vez, o consumo de nozes, frutas, verduras e legumes deverá aumentar duplamente, diz o relatório.

A dieta aconselha as pessoas a consumirem 2,500 calorias por dia, o que é um pouco mais do que as pessoas comem atualmente, disse Willett. As pessoas devem comer uma “variedade de alimentos à base de plantas, baixas quantidades de alimentos de origem animal, gorduras insaturadas e não saturadas, e poucos grãos refinados, alimentos altamente processados ​​e açúcares adicionais”, disse.

Diferenças regionais também são importantes de referir. Por exemplo, os países da América do Norte comem quase 6,5 vezes a quantidade recomendada de carne vermelha, enquanto os países do sul da Ásia comem 1,5 vezes a quantidade necessária de vegetais ricos em amido. No fundo, ”quase todas as regiões do mundo estão a exceder substancialmente os níveis recomendados de carne vermelha”, disse Willett.

Os benefícios para a saúde e o meio ambiente como resultados das alterações alimentares reconhecidos, “mas até agora o desafio de obter dietas saudáveis ​​a partir de um sistema alimentar sustentável tem sido dificultado pela falta de diretrizes baseadas na ciência”, disse Howard Frumkin, chefe do setor biomédico do Reino Unido.

Se a nova dieta for adotada globalmente, entre 10,9 a 11,6 milhões de mortes prematuras poderão ser evitadas a cada ano – o que equivale entre 19% a 23,6% das mortes entre adultos. Uma redução no sódio e um aumento nos grãos integrais, nozes, vegetais e frutas contribuirão para a prevenção de mortes, de acordo com um dos modelos do relatório.

No entanto, alguns cientistas duvidam que a mudança global para esta nova dieta possa ser alcançada, dado o ”choque”. ”Dado o nível atual de produção de alimentos, a esta dieta não é viável”, disse Modi Mwatsama, cientista e investigador do Wellcome Trust.

As cinco referências

Para permitir que as populações sigam a dieta, o relatório sugere cinco estratégias:

  • Boa gestão dos solos e dos oceanos: proibir a desflorestação e cortar o financiamento da pesca mundial, já que ambos resultam num excesso da frota pesqueira global.
  • Agricultura: incentivar os agricultores a transferir a produção de alimentos de grandes quantidades de algumas culturas para a produção diversificada de culturas nutritivas.
  • Agricultura: deve levar em conta as condições locais para garantir as melhores práticas agrícolas de uma região, de modo a produzir alimentos de melhor qualidade.
  • Subsídios de alimentação: A alimentação saudável também deve ser mais acessível. Para as famílias com rendimentos menores, deverão receber ajuda do estado para evitar a má nutrição continuada, sugerem os autores.
  • Redução dos desperdícios alimentares: a redução do desperdício de alimentos melhora o planeamento da colheita e impulsiona o poder de compra, em países de baixo e médio rendimentos, ao mesmo tempo que melhora os hábitos de compra dos consumidores em países de rendimentos mais altos.

Um sistema sustentável de produção de alimentos exige que as emissões de gases não-estufa, como o metano e o óxido nitroso, sejam limitadas. No entanto, o metano é produzido durante a digestão do gado, enquanto os óxidos nitrosos são libertados das terras agrícolas e pastagens.

Os autores acreditam que essas emissões são inevitáveis ​​para fornecer alimentos saudáveis ​​para 10 mil milhões de pessoas. Os mesmos destacam ainda que a descarbonização do sistema energético mundial deve progredir mais rápido do que o previsto, no sentido de concretizar planos mais sustentáveis.

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