Depois de anos de política monetária acomodatícia em várias economias desenvolvidas, com taxas próximas ou abaixo de zero, o crescimento continua sem descolar e o mesmo se passa com o consumo. Consequência divergente foi gerada em vários setores dos mercados, com um inflar dos preços dos ativos que, combinado com os preços baixos das ‘commodities’ e em particular do petróleo, colocou a inflação em níveis artificialmente baixos.

Os mercados têm mantido, por isso, fracas expectativas em relação à subida da inflação e às oportunidades que esta lhes pode proporcionar, com consequências para classes de ativos como as obrigações indexadas à inflação, altamente sub-representadas nas atuais carteiras.

No entanto, a evidência de que os mecanismos de transmissão que deveriam fazer repercutir o estímulo monetário no crescimento económico deixaram de funcionar e de que serão necessárias novas munições para estimular a economia, leva-nos a acreditar que será tempo de voltar a olhar para as perspetivas sobre a inflação e as obrigações a ela indexadas.

Porquê? Porque os próprios decisores políticos estão a analisar as suas alternativas e a viragem para uma política fiscal expansionista capaz de estimular a economia está, certamente, entre elas. Com uma política fiscal expansionista de larga escala, que colocaria em cima da mesa o aumento da despesa pública e o aumento de benefícios fiscais, o impacto seria mais direto no crescimento da atividade e do consumo. Voltariam assim a existir razões para rever em alta as perspetivas sobre a inflação.

Efeito da energia e estímulo à procura

Um dos componentes chave da inflação e um dos que mais influenciou a baixa taxa de inflação nos últimos tempos foi o rápido declínio do custo da energia, em principal do petróleo, que caiu 60% desde meados de 2014 até inícios de 2016.

Como a inflação geral é calculada de acordo com uma base móvel de 12 meses, o impacto da queda do preço do petróleo diminui com o passar do tempo, desde que este preço não volte a reduzir-se. Assim, considerando que o petróleo recuperou cerca de 50% desde o início de 2016, o impacto gerado pela queda anterior deixará de pesar no cálculo da inflação no primeiro trimestre de 2017.

A inflação subjacente, que exclui a energia, está atualmente mais elevada do que a inflação geral e, à medida que o efeito da descida do preço de petróleo sair da equação, a inflação geral deverá convergir com a subjacente.

Existem, assim, sinais crescentes de que as pressões inflacionárias globais estão a começar a emergir, com contributos trazidos pelo preços das ‘commodities’, assim como pelo custo dos fatores de produção e pela retração do mercado de trabalho. Mas qualquer aumento sustentado da inflação necessita de estar ancorado num aumento da procura de bens e serviços que, por sua vez, dificilmente acontecerá sem um aumento da despesa pública. E face à falta de resultados da política económica vigente, o elemento político começa igualmente a emergir.

Na Europa, o Presidente do BCE tem pedido aos governos reformas que estimulem a economia, enquanto o Banco do Japão tem entre as suas prioridades o aumento da meta da inflação. Nos EUA, com as eleições presidenciais iminentes, as políticas defendidas pelos dois principais candidatos são expansionistas por natureza.

Neste sentido, ambos os elementos catalisadores da inflação – técnico e político – parecem começar a convergir, dando um sinal aos investidores: depois de anos de sub-representação, é tempo de reavaliarem a sua exposição aos títulos indexados à inflação, sob pena de estarem a excluir das suas carteiras uma potencial e atrativa fonte de rentabilidade.