Keir Starmer estreou-se esta quarta-feira como líder da oposição trabalhista no parlamento e optou por fazê-lo de forma cordata e sem grandes rasgos de confrontação com o governo, perante um ministro das Relações Exteriores e primeiro-ministro interino, Dominic Raab, cujo perfil não está formatado, ao contrário do ‘verdadeiro’, Boris Johnson, para este tipo de debates.
Mas a opção demonstra que Starmer vai conduzir a sua atuação de forma contida ao longo do tempo em que a pandemia estiver a liderar as preocupações dos britânicos. Para os analistas, o novo líder trabalhista podia ter optado por zurzir na evidência de que o executivo não andou bem no combate à pandemia – mas decidiu fazer o cointrário.
Desta forma, também pretende preservar a sua imagem junto do eleitorado. Com discurso responsável, ciente de que seus primeiros cem dias no cargo serão medidos em circunstâncias extremas, não pode dar-se ao luxo de cometer erros. Até porque ninguém sabe quão longe irá a influência da pandemia – ou mais propriamente da forma desastrada como a pandemia foi combatida pelo governo – em termos políticos.
Para os mais radicais, este fator – sempre quando tudo estiver sob controlo – pode bem ser o princípio do fim do estado de graça de Boris Johnson. Ou, colocado de outra forma: será possível a realização de eleições antecipadas?
Há que convir, dizem os observadores, que o ambiente também não convidava a grandes tiradas: a Câmara dos Comuns estava praticamente vazia, com Raab e Starmer juntamente com um punhado de deputados fisicamente presentes em Westminster. A algazarra costumeira, que tantas tiradas memoráveis proporciona, estava ausente.
“Prometi desde o início que faríamos uma oposição construtiva. Estamos todos interessados no êxito do governo nessa batalha e ele terá meu apoio em tudo o que fizer bem. Mas também questionarei a sua política quando ele fizer algo errado”. Foi assim, citados pelos jornais britânicos, que o líder trabalhista começou a sua intervenção.
Mas o executivo sabe que o ‘sangue’ há-de aparecer. Ed Davey, líder interino dos Democratas Liberais, menos ‘polido’ que o seu homólogo trabalhista, não deixou de perguntar a Dominic Raab se apoiava uma comissão de inquérito sobre a gestão da crise de coronavírus. “Sem dúvida, há lições a serem retiradas, mas agora os cidadãos querem que nos concentremos no que é mais urgente”, respondeu o substituto de Johnson.
Talvez tenha sido um ‘deslize’ de Raab, que pode sair caro ao governo. Mas todos sabem que, no pico de forma, Boris Johnson conseguirá escapar com facilidade a esta ‘ratoeira’ que lhe foi montada na Câmara dos Comuns.
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