Apenas dez anos desde o colapso financeiro global e a crise das dívidas soberanas que se lhe seguiu, o espectro da estagnação económica volta a ensombrar a economia mundial. O FMI tem vindo a rever em baixa as suas previsões, que agora apontam para um crescimento anual constante de 3,7% nos próximos dois anos, com tendência para abrandar nos três anos seguintes. De facto, são muitos os riscos que impendem sobre a evolução económica, como a guerra comercial EUA/China, a turbulência nos mercados emergentes, a subida dos juros da dívida italiana, o aumento do preço do petróleo, o Brexit ou a normalização da política monetária pela FED e pelo BCE.
Em relação à guerra comercial EUA/China, de que já aqui falei, sabe-se hoje que pode ter um impacto negativo no PIB mundial de 1% nos dois próximos anos. O conflito aduaneiro também contribui para a instabilidade das economias emergentes, que, com a subida do dólar provocada pelo tendencial aumento das taxas de juro da FED, vão igualmente sentir muitas dificuldades para financiar as suas dívidas externas “dolarizadas”. Na Europa, o Brexit continua num constrangedor impasse político, sendo certo que, tanto na versão hard como na versão soft, implicará uma perda de valor e competitividade da economia da UE. Ainda ao nível europeu, a previsível subida da taxa de juro de referência pelo BCE e, sobretudo, a escalada dos juros da dívida italiana podem agravar o custo de financiamento dos países europeus, em particular os periféricos.
Perante este quadro de instabilidade económica, a UE devia cerrar fileiras e aprofundar o projeto europeu. Mas o motor franco-alemão parece não ter já potência para fazer avançar a UE, mercê do desgaste político interno de Angela Merkel e da surpreendentemente baixa taxa de popularidade do seu homólogo francês, Emmanuel Macron. Por outro lado, o tema da migração está a criar um fosso entre o grupo de Visegrado – Hungria, Eslováquia, Polónia e República Checa – mais Itália e Áustria e os restantes países europeus, ameaçando a coesão da UE. Se a tudo isto acrescentarmos o dissídio do Reino Unido, pode dizer-se que o projeto europeu vive um dos períodos mais conturbados da sua história.
Para uma economia aberta e por isso vulnerável à conjuntura externa como é a portuguesa, as notícias do abrandamento económico mundial não são animadoras. Sem capacidade de interferir nos riscos internacionais referidos, resta ao nosso país não refrear o seu esforço de consolidação das contas públicas, de forma a manter a credibilidade externa alcançada nos últimos anos e a não agravar os custos de financiamento. Um défice orçamental perto do zero ou mesmo zero é um objetivo louvável neste cenário, considerando o ónus que a dívida pública (125,7% do PIB) acarreta para a economia portuguesa. E apesar da instabilidade do comércio mundial, Portugal não deve abandonar a sua ambição de fazer crescer para 50% o peso das exportações no PIB.