Desde 2019 que o mundo não vive tranquila e rotineiramente.

Pior, desde 2019 que o mundo, cada um dos países, das organizações, dos cidadãos, não decide por si o que pode ou quer fazer e, pior, parece não poder determinar livre e autonomamente o seu percurso para o futuro.

Vivemos dois anos de incerteza sanitária, com muitos cidadãos entre a vida e a morte e com muitos de nós a vermos desaparecer alguns dos que nos eram queridos.

A par disso, vimos a economia a regredir, a despesa pública a aumentar e as relações de trabalho a reconfigurarem-se.

Ainda a questão sanitária não estava, não está ultrapassada e somos invadidos pela guerra na Europa. Vemos certamente a destruição de cidades, milhares de mortos, o equivalente a metade da população portuguesa refugiada fora do seu país e vemos líderes políticos em conversações, ou alocuções, mais ou menos produtivas, e televisionadas para todo o mundo.

Mas, porventura por desatenção minha, ainda não vi os lideres políticos a informar-nos e, consequentemente, a mobilizar os cidadãos para as adversidades que a actual situação implica.

Será que vamos todos continuar a ter os mesmos cereais que tínhamos até agora e ao mesmo preço?

Será que o próximo inverno europeu não será mais frio e mais caro?

Será que os recursos que estão a ser afectos às despesas militares não serão necessários para fazer face a outras despesas? A velha opção de Samuelson, entre “os canhões e a manteiga”, não estará a tomar um sentido demasiado literal?

Aparentemente, para estes novos problemas continuamos com velhas receitas. Só assim se podem interpretar as recentes posições do Fundo Monetário Internacional (FMI) que parece ter acordado de um sono profundo que o afastou da realidade nos últimos anos.

E neste estremunhado, mas violento acordar, o FMI vem chamar a atenção do mundo para: (i) o abrandamento do crescimento; (ii) o excesso de endividamento público dos estados; (iii) o aumento das taxas de juro; (iiii) o aumento previsível da inflação; etc..

O FMI veio dizer-nos o que já todos sabíamos e esqueceu-se de dizer que, quer a Covid, quer a incerteza da guerra levaram os Estados a aumentar o seu endividamento e a resolver cada um dos problemas “atirando-lhe” para cima com o dinheiro que não têm – o dinheiro da dívida pública.

Ora, o que está em causa é que o FMI nos diga, diga ao mundo, como é que estes problemas se resolvem numa perspectiva intergeracional e de longo prazo.

Como é que podemos sobreviver – Estados, Empresas e Famílias – com endividamentos que explodem e com custos de financiamento que aumentam para valores que não conhecíamos há mais de uma geração?

O FMI e, com ele, os políticos do mundo, têm que apontar um caminho aos cidadãos, dar-lhe soluções e esperança.

A não ser assim, sobra a rua, o inorgânico, o populismo, os partidos instantâneos, o sistema e o antissistema.

Do que se tem visto não é grande caminho, pelo menos para os que defendem a democracia e a liberdade.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.