No ano do centenário do realizador, poeta e romancista Pier Paolo Pasolini, a sétima arte não poderia faltar à chamada. O ciclo “O Cinema segundo Pier Paolo Pasolini”, promovido pela Risi Film, com o apoio do Instituto Italiano de Cultura de Lisboa, reúne cinco longas-metragens de ficção e um documentário, todos eles cópias restauradas.
O primeiro filme do realizador, “Accattone”, de 1961, é exibido hoje, 7 de abril, e inaugura o ciclo que se irá prolongar até 12 de maio em Lisboa, Porto e Cascais, seguindo depois para outras salas do país. O ciclo fica completo com a exibição de “Mamma Roma” (1962), “O Evangelho Segundo S. Mateus” (1964), “Comícios de Amor” (1965), “Passarinhos e Passarões” (1966) e “Rei Édipo” (1967).
Uma figura controversa e um olhar sempre crítico
Pasolini nasceu a 5 de março de 1922 em Bolonha, cidade onde frequentou o liceu e a faculdade. Apesar dessa aparente estabilidade, sendo filho de um militar, seguiu o pai nas suas diversas colocações. No verão, refugiava-se em Casarsa, na região do Friuli, cidade de origem da mãe, que lhe serviu também de ‘esconderijo’ depois do 8 de Setembro de 1943, para fugir à chamada no exército.
Começou a escrever poesia no início da década de 40, que ficou marcado pela morte do seu irmão mais novo, Guido, em 1945, numa rixa entre dois grupos de partigiani com ideias políticas diferentes. Em 1947 inscreveu-se no Partido Comunista. Arranjou trabalho como professor, numa aldeia perto de Casarsa, foi despedido e a seguir expulso do PCI por um obscuro episódio de homossexualidade que causou um processo por corrupção de menores. Foi o primeiro de uma longa lista de processos que viriam a traçar o seu destino de marginalizado e rebelde.
Mudou-se para Roma com a mãe, e passou a ganhar a vida dando explicações e aulas em escolas particulares. Descobriu o subproletariado da capital italiana e nele se inspirou escrever poesia e, sobretudo, como “Vadios” (1955) e “Uma Vida Violenta” (1959) – que depois adaptou ao cinema como “Accattone”. Foi o seu primeiro êxito literário, ainda que envolvo em grande escândalo.
A escrita ganhou relevo, fundou e dirigiu a revista “Officina” entre 1955 e 1959, e estreou-se no mundo da sétima arte pela mão de Federico Fellini, escrevendo parte dos diálogos de “As Noites de Cabiria” (1957). A partir de 1961 iniciou uma carreira fulgurante como realizador, da qual resultaram obras como “Medea”, “Decameron”, “Salò ou os 120 Dias de Sodoma”, e nunca abdicou do seu ativismo como feroz crítico social e político.
Pier Paolo Pasolini morreu assassinado num campo em Óstia, nos arredores de Roma, em circunstâncias misteriosas em 1975.
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Programa:
A partir de 7 de abril
Accattone (1961)
Primeira longa-metragem de Pasolini, pinta o retrato de uma cidade, Roma, na versão que ninguém quer conhecer. Uma história trágica de indigência e marginalidade, dor, abandono e sofrimento.
A partir de 14 de abril
O Evangelho Segundo São Mateus (1964)
A figura mítica de Cristo é reinventada a partir do Evangelho Segundo São Mateus, dando origem a um drama bíblico inovadoramente naturalista e despojado.
A partir de 21 de abril
Mamma Roma (1962)
Um retrato neorrealista da luta pela sobrevivência na Itália do pós-guerra. Numa notável interpretação, Anna Magnani incarna uma prostituta e personifica essa mesma sobrevivência e busca incessante para dar uma vida digna ao seu filho.
A partir de 28 de abril
Passarinho e Passarões (1966)
Uma obra filosófica e política que reflete sobre a pobreza e a riqueza, a vida e a morte, cristianismo e marxismo. Aquele que é o último filme do ator cómico Totò, conta com banda sonora do criativo Ennio Morricone.
A partir de 5 de maio
Rei Édipo (1967)
A tragédia de Sófocles reinventada por Pasolini e transformada numa autobiografia. Uma interpretação muito pessoal e fascinante do mito de Édipo.
A partir de 12 de maio
Comícios de Amor (1965)
Documentário onde Pasolini, neuma viagem por Itália, questiona operários, camponeses, soldados, intelectuais, burgueses, velhos, jovens e crianças sobre a sexualidade.
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