Os primeiros dias da presidência trumpiana provocaram dois efeitos previsíveis e um terceiro de epílogo incerto. Os defensores exacerbados do presidente americano fizeram tudo para centrar o debate nas virtudes da economia americana — elogiar a eficácia dos EUA permite-lhes não olhar de frente para a pulsão antidemocrática e desumana de Trump, cujos resultados podem, a prazo, revelar-se desastrosos.

Do outro lado da barricada, o comportamento tem sido igualmente simplório: tudo o que o inquilino da Casa Branca faz é ridicularizado, como se esta administração fosse incapaz de tomar uma única decisão adequada – uma observação errada e inútil. A polarização política é isto mesmo, é estúpida e um absurdo, é um duelo retórico de soma zero: uma barricada, duas trincheiras, zero esforço para compreender, apenas ataque e ofensa. No entanto, apesar deste imenso ruído, a União Europeia deu esta semana um inesperado primeiro sinal de vida. Mostrou que percebeu (aleluia) o que está em jogo. Como disse Christine Lagarde, a UE enfrenta uma crise existencial.

Resumidamente: há regras e regulamentos a mais, há empresas e inovação a menos, logo há uma medíocre criação de riqueza. A Alemanha simboliza esta decadência europeia. Um país onde o fax — o fax! — ainda sobrevive no setor público tinha de ficar atolado no passado analógico a ver os elétricos passar. Devemos, portanto, a Trump o choque que parece ter assustado os líderes europeus. Já tínhamos o relatório Draghi, faltava-nos o alerta laranja para pôr este guião de mudança em prática. Queremos uma economia competitiva – mas que respeite os direitos e liberdades de todos. Não somos o faroeste, nem queremos ser. Mas também não somos um museu de ideias velhas.