A aproximação da realização da COP28, a grande conferência sob a égide das Nações Unidas que terá lugar no final de novembro no Dubai sobre as medidas de mitigação das alterações climáticas, reforçará naturalmente nas próximas semanas a atenção mediática dada aos temas do Ambiente e da Sustentabilidade a nível global.
Da ambiciosa agenda da conferência, afigura-se, no entanto, ausente um assunto que merece toda a nossa atenção pela sua dupla dimensão, tanto ambiental como social. Falo do combate ao desperdício alimentar. Muito recentemente, celebrou-se o Dia Internacional da Consciencialização Sobre a Perda e o Desperdício Alimentar, onde a Unimark e a ‘Aqui é Fresco’, apoiaram e marcaram presença ativa no evento que decorreu na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa, organizado pelo Movimento Contra o Desperdício que congrega já 300 entidades.
Como foi noticiado na ocasião, em Portugal e apesar de 1,6 milhões de habitantes viverem abaixo do limiar da pobreza – 400 mil deles com carências alimentares – estima-se que ainda sejam desperdiçadas 1,8 milhões de toneladas de alimentos todos os anos. Ou seja, mais de 180Kg por habitante, com um impacto económico negativo avaliado em 3,3 mil milhões de euros/ano.
Aliada a esta grave dimensão social, deve somar-se o fortíssimo impacto ambiental. Sendo que – de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) – 8% dos gases de efeito estufa são provocados pelo desperdício alimentar. Quando os alimentos vão para o aterro e apodrecem, produzem metano, gás com efeito de estufa ainda mais potente que o dióxido de carbono.
Assim sendo, as medidas adotadas neste âmbito podem contribuir para alcançar nada menos do que três Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: Objectivo 2 – Fome Zero; Objectivo 12 – Consumo e Produção Sustentáveis e Objectivo 13 – Ação Climática.
A resposta ao problema passa assim necessariamente por prosseguir o caminho feito, ao reunir um número cada vez maior de entidades associadas ao sector alimentar nesta causa. Em conjunto, continuaremos a unir esforços para que os produtos não comercializados possam chegar a quem deles precisa de forma regular e através das inúmeras entidades (Citar aqui apenas algumas seria injusto e citá-las a todas impossível) que, no terreno, tão meritoriamente distribuem no território os bens alimentares.
Por outro lado, também é certo que deve existir um apelo permanente à modificação comportamental dos consumidores, alertando para hábitos de consumo que, muitas vezes por desconhecimento ou inércia, não incluem o devido contraponto distributivo. Combater o desperdício, aliás e como na maioria das circunstâncias, é uma tarefa que começa nas nossas casas.
A rede de lojas ‘Aqui é Fresco’ estabeleceu parcerias com a ‘Too Good To Go’ e a ‘Unidos Contra o Desperdício’ precisamente porque entendemos que a amplitude da solução deve acompanhar a dimensão do problema.
Efetivamente, só trabalhando em rede, reunindo sinergias e partilhando uma mesma estratégia de atuação poderemos otimizar os recursos em prol desta causa comum. A redução da perda de alimentos e do desperdício de terras requer a atenção e ações de todos, desde os produtores de alimentos, às partes interessadas da cadeia de abastecimento alimentar, indústrias alimentares, retalhistas e consumidores.
Em 2020, ano em que pela primeira vez se comemorou o Dia Internacional de Consciencialização sobre a Perda e o Desperdício Alimentar, estimava-se que no prazo de uma década o nível de desperdício alimentar a nível mundial aumentaria mais um terço, o que se afigura inadmissível.
Como mencionado no início deste artigo, as causas ambientais são muitas e todas elas relevantes. Pela sua atividade, a ‘Aqui é Fresco’ e a Unimark elegeram o combate ao desperdício alimentar como prioridade. E está e estará sempre disponível para contribuir e colaborar, pragmaticamente, de forma significativa e eficaz, numa estratégia de conjunto, para que a dimensão social e ambiental se unam num mesmo resultado: um mundo mais solidário, mais equitativo e mais sustentável.
