O crescimento que se verifica na economia portuguesa só é possível porque, pela primeira vez desde o início da crise, se assiste a uma evolução convergente da procura externa com a procura interna, esta última impulsionada numa primeira fase pelo consumo e, num período mais recente, pelo investimento.

É certo que os factores envolventes, nomeadamente a conjuntura internacional, ajudaram na evolução registada e também é um facto que o contributo do turismo foi determinante no comportamento das exportações. Mas também é verdade que a reanimação da economia foi transversal a todos os sectores, com ganhos que, embora diferenciados, reflectiram o sentimento de maior confiança no futuro e que os inquéritos do INE confirmam.

Não podemos esquecer, no entanto, que os níveis em que se encontram os principais indicadores económicos estão ainda muito abaixo do período que antecedeu a crise.

A verdade é que estamos perante uma realidade em que os factores conjunturais são determinantes. Se, por um lado, esta realidade introduz uma elevada volatilidade nos resultados, por outro, sendo o comportamento da economia o principal factor explicativo da consolidação orçamental, vem confirmar a ideia de que o crescimento e as políticas que o favoreçam não são, em si mesmas, inimigas da melhoria das contas públicas. Se não tivéssemos tido três anos consecutivos de abrandamento da austeridade, após o fim do Programa de Resgate, não teria sido possível obter estes resultados para a nossa economia.

Neste quadro, a política económica do país estava em 2017 e continua a estar em 2018 confrontada com o seguinte dilema: aproveitar a folga orçamental resultante desta conjuntura para acelerar a redução do défice e/ou para reduzir o stock da dívida pública? Ou utilizar a margem de manobra adicional para introduzir mais alguma descompressão na política orçamental fixando, nomeadamente, uma meta menos exigente para os saldos primários, aceitando acomodar algum aumento da despesa corrente primária?

Se a posição das instâncias da U.E. recomendavam a primeira opção, a escolha do Governo foi claramente a segunda, como se pode ver tanto na comparação entre as previsões das contas públicas para 2018 inscritas no O.E. e no Programa de Estabilidade, como no comportamento da despesa ao longo de 2017 e também na sua previsão para 2018.

O sucesso desta opção dependerá, em grande medida, de um comportamento internacional favorável, com todos os riscos que daí decorrem.

Aproveito esta primeira crónica do ano para desejar um bom 2018 à equipa e aos leitores do Jornal Económico.