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O Dragão Chinês em Portugal

Passados 10 anos e após termos sobrevivido à crise de 2008, é da mais elementar justiça reconhecer que o investimento chinês assumiu um papel importante na recuperação económica de Portugal.
11 Dezembro 2018, 07h15

O tema relevante desta semana é, sem dúvida, a visita do Presidente Chinês Xi Jinping a Portugal, numa altura em que as autoridades europeias vêem com “desconfiança” o investimento estrangeiro em “ativos estratégicos dos Estados membros que permitam controlar ou influenciar as empresas europeias cujas atividades são essenciais para a segurança e a ordem pública na EU e nos seus Estado membros”.

Embora o alerta – no caso feito pelo Presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker – seja de indiscutível pertinência e mereça reflexão, é importante não termos “memória curta”. Na verdade, Portugal foi especialmente atingido pela crise global de 2008, que congelou por completo o mercado imobiliário em Portugal e prometia “arrasar” o tecido económico português nos seus vários sectores de atividade, mas em especial nos seus sectores bancário, segurador e energético, o que despoletou a venda de ativos pelo Governo português e a passagem de centros de decisão importantes para fora de Portugal, nomeadamente para a vizinha Espanha. Aliás, a venda de ativos, nomeadamente no setor energético, foi uma imposição da própria ‘troika’ e foi nessa altura que vimos fatias substanciais do capital da EDP e REN serem vendidas a investidores chineses. Era só o início…

Passados 10 anos e após termos sobrevivido à crise de 2008, é da mais elementar justiça reconhecer que o investimento chinês assumiu um papel importante na recuperação económica de Portugal. Com efeito, desde 2012 Portugal absorveu 4.078 mil milhões de euros oriundos da China decorrente dos “vistos gold”, e com isto manteve “vivo” o mercado imobiliário português que, de outra forma, teria continuado “ligado às máquinas”, com as consequências que bem conhecemos aquando da crise, no setor da construção e com um impacto muito gravoso no emprego. Numa altura em que os mercados estavam completamente fechados para tudo o que fossem ativos nacionais e as empresas portuguesas não se conseguiam financiar, foi o investimento chinês em empresas como a EDP, Fidelidade, Millennium BCP ou a REN que permitiu a recuperação económica de Portugal no pós-crise. E quando olhamos para as empresas estrangeiras que aproveitaram os “saldos” portugueses, os accionistas chineses são, pelo menos à data de hoje, os que melhor nos têm tratado. Basta olharmos para as equipas de gestão e estratégias de gigantes como a EDP e REN para concluirmos por uma continuidade em lugar de transformação destas em meras “sucursais” em Portugal.

Será sempre assim? Provavelmente não. E é por isso que a diplomacia é a pedra de toque neste delicado equilíbrio de um país como Portugal, onde não existem capitais próprios que permitam outra solução que não o controlo das empresas nacionais por acionistas com músculo financeiro. Manter as melhores relações com a China, não ignorando as profundas diferenças que nos separam, é inevitável se não formos demagógicos.

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