A atual conjuntura empresarial trouxe ao debate a aceleração digital das empresas portuguesas. Gabriel Coimbra, da IDC, chegou mesmo a afirmar que o choque provocou uma aceleração de dez anos face ao que era a prática anterior, quase como se a necessidade aguçasse o engenho de um investimento prioritário para o futuro de muitos sectores, e que adquiriu agora um novo sentido de urgência.

Existem várias áreas em que vemos a digitalização entrar com toda a legitimidade nas empresas portuguesas. Desde a automatização de processos ao teletrabalho, a tecnologia tem ajudado as empresas a responder da melhor forma e ajudado, inclusive, a criar vantagens competitivas para a retoma depois da crise.

Mas existe uma área, em particular, que tem uma oportunidade única neste tempo de isolamento social, e que permite diferenciar as empresas. É, aliás, uma das áreas a que as empresas precisam de apostar seriamente para não só aproveitarem a oportunidade contextual provocada pela Covid-19, como também darem o salto para uma economia de nova geração. Falo, obviamente, do comércio online, também conhecido por e-commerce.

Não será surpresa para ninguém se disser que 80% das empresas portuguesas não apostam no e-commerce. De facto, o nosso país ainda está longe de convergir com a média europeia nesta matéria, e sabe-se que, apesar de termos tido cada vez mais compras online nos últimos anos, menos de metade dos portugueses fazem compras online. É irónico que, num país altamente tecnológico, um dos eixos com maior potencial económico na era digital esteja tão pouco aproveitado.

Mas este cenário apresenta outra fragilidade. Grande parte das compras efetuadas são realizadas em lojas online fora de Portugal, aproximadamente 1/3 na China, em plataformas como a Alli Express ou eBay. Estes números demonstram que a oportunidade está a passar ao lado de grande parte do tecido empresarial português. Para além de as empresas não aproveitarem a oportunidade de conquistar o mercado mundial, estão ainda a desperdiçar o mercado interno que vai sendo lentamente estimulado a partir do exterior.

É verdade que existem atualmente bons exemplos em Portugal. Desde os suplementos alimentares, livros e até escovas de dentes, já se provou ser possível ter negócios rentáveis, com fortes taxas de crescimento e credíveis aos olhos dos consumidores. Não será demais referir o exemplo de Luís Onofre, que, ao integrar as suas lojas online com as lojas físicas, aumentou em 60% as vendas de e-commerce.

Mas importa perguntar o que têm em comum os negócios vencedores do comércio do futuro. São alicerçados em tecnologia que automatiza os processos, melhora a experiência dos clientes e permite-lhes reagir mais rapidamente aos pedidos e necessidades do mercado. Sem software para vender e gerir a empresa a qualquer hora, e a partir de qualquer lugar, dificilmente poderiam manter os clientes satisfeitos e assegurar as suas margens de rentabilidade.

Os três factores críticos de sucesso do e-commerce são segurança, conforto e conveniência, que encontram nestas tecnologias a solução para vingarem. Podemos usar o software para facilitar o pagamento, manter os clientes informados do estado da encomenda, ter uma infraestrutura sempre disponível e para implementar um serviço de entrega interligado com a operação logística e gestão de stocks.

Resumindo, aquilo que há uns anos poderia parecer possível apenas para grandes empresas, está hoje ao alcance de qualquer PME ou pequeno negócio.

A aceleração digital está pois cada vez mais acessível a todos os tipos de negócio, independentemente da sua dimensão, e tem um efeito de diferenciação muito importante. No que respeita ao e-commerce, a escolha das empresas não pode ser se apostam ou não na implementação deste canal de venda, mas sim se querem assegurar o seu futuro ou deixar que outros ocupem o seu espaço no mercado.