[weglot_switcher]

O empobrecimento de quem trabalha ou estuda, em Portugal

Aumenta a vaga de emigração de altos quadros para outros países, onde a remuneração e condições de trabalho estão muito além das que se praticam no nosso país – pelos sucessivos governos e demais entidades patronais – e por cá diminuem as contratações de pessoas com mais conhecimentos e competências, desmoralizadas pela promessa de baixo poder de compra – e mesmo pobreza – que o nosso país lhes oferece.
2 Dezembro 2021, 07h15

De dois dos últimos estudos de Eugénio Rosa, ressaltam conclusões preocupantes sob o ponto de vista socioeconómico que todos, trabalhadores, pressentimos no dia a dia e que se vêm comprovar matematicamente com estes trabalhos.

Num deles, alude-se ao poder de compra dos trabalhadores da administração pública que “em 2021 é inferior ao poder de compra de 2010” (10,3%)  a par do decréscimo de profissionais da função pública nos últimos dez anos – entram cada vez menos profissionais; os jovens são aliciados por outras ofertas melhor remuneradas e promissoras em termos de progressão de carreira, dentro ou fora do país; a média etária dos funcionários públicos já ronda os cinquenta e poucos anos e estes, desincentivados pelas sucessivas políticas laborais desde 2008, já não almejam mais do que a reforma, mesmo com a perspetiva de um envelhecimento em pobreza.

Factos reais: há trabalhadores que começaram a sua actividade aos 16 ou aos 18 anos e que hoje, volvidos 40 ou mais anos de trabalho, auferem em torno de 600 euros mensais; há outros, mais jovens que ingressaram na função pública há quase 25 anos, e mesmo com qualificações por vezes ao nível de doutoramento, não só não progrediram na carreira desde 2008 como auferem pouco mais do que um salário médio…esta última condição é aliás frisada num outro estudo do mesmo autor sobre “a redução significativa das diferenças das remunerações auferidas pelos trabalhadores com altos níveis de escolaridade” que tem perpetrado a “distorção dos salários em Portugal” (sic) “ criando fortes obstáculos ao crescimento económico e ao desenvolvimento do país”.

Como consequência, aumenta a vaga de emigração de altos quadros para outros países, onde a remuneração e condições de trabalho estão muito além das que se praticam no nosso país – pelos sucessivos governos e demais entidades patronais – e por cá diminuem as contratações de pessoas com mais conhecimentos e competências, desmoralizadas pela promessa de baixo poder de compra – e mesmo pobreza – que o nosso país lhes oferece. (como é que se constitui família ou compra uma casa (um direito constitucional transformado em luxo por estes tempos…) com o nível dos salários em Portugal?).

A degradação da administração pública é visível em muitos sectores e a este facto não é alheia a já mencionada “subversão da tabela remuneratória” que aproxima o aumento do salário mínimo ao congelamento das demais remunerações da função pública, dificultando a contratação de novos trabalhadores, sobretudo qualificados por forma a optimizar as respostas dos serviços públicos. (É um mero exemplo, eu sei, mas do último concurso público para novas contratações para um determinado serviço, que tive conhecimento, os finalistas do mesmo não aparecem sequer às provas- outras oportunidades no privado, entretanto, absorveram as suas competências e qualificações).

Eugénio Rosa reforça, e bem, que este quadro de pobreza de quem trabalha (sim, é crescente o número de pobres que trabalham.) terá (já está a ter) “consequências dramáticas para o funcionamento e qualidade dos serviços públicos”, conduzindo “o país ao atraso e ao subdesenvolvimento”.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.