O Japão é um país com uma história algo peculiar. Durante centenas de anos quando ainda não era país, sofreu com consecutivos e sangrentos conflitos internos – a era dos Samurai, até à unificação do país – que resultaram na construção de um país com uma cultura vincadamente nacionalista – desde a unificação até à Segunda Guerra Mundial -, mas que após a derrota nessa guerra foi rapidamente moldado pelos valores ocidentais, sendo hoje um dos maiores exemplos no que toca estabilidade social e política.
Do lado económico, a história moderna do Japão também não deixa a desejar. O país começou praticamente das cinzas após a Segunda Guerra Mundial, e tornou-se numa das principais potências económicas do mundo. Estas quatro décadas de forte crescimento e desenvolvimento económico culminaram numa bolha financeira no mercado de ações e no mercado imobiliário no final dos anos 80, em que um edifício em Tóquio chegou a valer mais que Manhattan inteira. Durante a década de 90, para fazer face à crise precipitada pela bolha, o banco central do Japão começou a implementar uma série de políticas de expansão monetária, que na prática duraram até hoje. O Japão tem as taxas de juro de referência à volta de zero desde o final dos anos 90, e não as consegue descolar desses níveis porque desde então que não existe praticamente inflação. A crise financeira de 2008 veio agudizar esse problema e levou o Banco do Japão a adoptar medidas de política monetária ainda menos ortodoxas que as dos bancos centrais ocidentais. O Banco do Japão tem taxas de juro negativas e compra todos os meses dívida soberana do seu país no mercado secundário (duas medidas já conhecidas na Zona Euro e nos EUA), e ainda compra ações de empresas cotadas em bolsa através de ETFs (algo que os bancos centrais ocidentais ainda não se atreveram a fazer). O Banco de Japão ganha facilmente no campeonato de bancos centrais menos ortodoxos.
No entanto, no meio de toda a criatividade que o Banco do Japão já exibiu, que segundo a teoria económica convencional já se deveria ter traduzido em inflação e instabilidade há muito tempo, o Japão tem-se revelado um destino económico estranhamente equilibrado. A inflação, apesar de não subir é realmente estável, a taxa de desemprego raramente subiu acima dos 5% ao longo das últimas décadas e hoje está abaixo dos 3%. Os índices de crime do país são dos mais baixos e a esperança média de vida dos japoneses (84 anos) é das mais altas do mundo. Por muito extrema que seja a política monetária no país, o Japão é na verdade um exemplo de estabilidade económica e social.
Por outro lado, por muito estável que seja a economia e a sociedade de um país, uma política monetária extrema não é desejável. O Japão está na linha da frente para absorver qualquer vento inflacionista que venha da China, e o banco central deverá aproveitá-lo para reverter as medidas mais extremas que tem vigentes. O sector financeiro do país agradeceria e os investidores em iene japonês também. 2018 pode ser o ano em que tal acontece…