A Ford é um dos símbolos do capitalismo norte-americano. Com mais de 100 anos, em tempos era uma empresa inovadora e disruptiva, que foi pioneira na implementação de processos industriais de produção em massa. Hoje, vende sete milhões de carros por ano, a nível global, e em 2016 gerou 7.000 milhões de dólares (cerca de 6,6 mil milhões de euros) de lucro e tem uma capitalização bolsista de cerca de 45 mil milhões de dólares (cerca de 42,4 mil milhões de euros).
A General Motors, também um grupo com mais de um século, tem uma história um pouco mais acidentada que a Ford. O grupo faliu em 2009 e teve de ser objecto de um resgate público de quase 50 mil milhões dólares (cerca de 47,1 mil milhões de euros), sob o programa TARP (Troubled Asset Relief Program). Mas, hoje em dia, produz 10 milhões de carros por ano, emprega mais de 200 mil trabalhadores e gerou lucros de praticamente 10 mil milhões de dólares (cerca de 9,4 mil milhões de euros). Cerca de 8 anos depois do resgate, acho que podemos afirmar que o Estado norte-americano tomou uma decisão acertada, mesmo que tenha perdido 10 mil milhões de dólares no investimento. A General Motors tem uma capitalização bolsista de 51 mil milhões de dólares (cerca de 48 mil milhões de euros).
Depois, temos a Tesla, fundada em 2003 por Elon Musk, um visionário/empreendedor/físico que fundou outras empresas de sucesso, como a PayPal e a SpaceX, e que mais rapidamente se compara a Tony Stark, o génio que inventou e veste o fato do Homem de Ferro (personagem de ficção cientifica), do que a qualquer outro ser humano do género não-ficção. A Tesla produz carros eléctricos do segmento de luxo e em 2016 vendeu 76 mil carros (uma centésima do que vendeu a Ford), nunca gerou lucro e todos os anos avança com aumentos de capital para financiar as suas operações do dia-a-dia. A Tesla tem uma capitalização bolsista de cerca de 51 mil milhões (sim, mais ou menos a mesma que General Motors).
A Tesla é, de facto, uma empresa extraordinária, provavelmente das mais disruptivas e tecnologicamente avançadas do mundo. Além de fabricar automóveis, a Tesla também desenvolve baterias e produz painéis solares. Vai em breve lançar o Model 3, um modelo mais acessível do seu carro eléctrico, equipado com hardware para ter condução autónoma, que será vendido por cerca de 35.000 mil dólares (cerca de 32.900 euros) e que realmente deverá esmagar a concorrência no segmento de média gama, quando chegar ao mercado. A empresa antecipa que vai produzir e vender cerca de 500 mil destes em 2018 e, se assumirmos uma margem de lucro de 10% nestas vendas (a Ford e a General Motors têm margens de lucro entre os 5% e os 10%), os lucros da Tesla poderiam chegar aos 1,8 mil milhões de dólares (cerca de 1,7 mil milhões de euros). Não é mau e, provavelmente, seria suficiente para justificar a capitalização bolsista actual, mas não é certo que aconteça. Existem várias marcas a desenvolver carros eléctricos acessíveis, e se a Tesla não consegue gerar lucros com carros de luxo, como vai gerá-los com carros de 35.000 dólares?
Irá Elon Musk, o Iron Man do nosso mundo, conseguir rentabilizar a Tesla? Difícil de dizer, e especulativo. Eu, que não percebo muito sobre o sector automóvel, provavelmente só faria essa aposta se visse o Homem de Ferro a sobrevoar a cidade de Lisboa para vir aproveitar o sol durante este fim-de-semana alargado.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com