Sendo eu catalão, as pessoas perguntam-me com frequência se sou independentista ou unionista. A minha resposta é que não sou nem uma coisa nem outra, o que costuma incomodar os meus interlocutores porque acham, simplesmente, que não quero responder à questão.

Para suportar a minha opinião, tento explicar que estou contra qualquer medida unilateral ou ilegal, mas também contra o imobilismo e a renúncia à procura de soluções de um problema real. Não se trata de relativismo moral, mas da defesa da procura do equilíbrio, do termo médio, através da negociação. Ainda assim, após insistir na questão, as pessoas parecem ficar convictas de que, na minha intimidade, deverei de concordar necessariamente com o Sr. Rajoy ou com o Sr. Puigdemont.

Este exemplo ilustra o fenómeno da crescente polarização da sociedade não só na política, o que até é percetível, ou no futebol, o que é habitual, mas em novas áreas como a economia, tanto na criação como na distribuição de valor.

As novas tecnologias contribuem definitivamente para esse fenómeno, porque desmaterializam processos físicos que são, por definição, mais pesados e difíceis de alterar, aceleram a mudança e fomentam a criação de uma nova ordem em que predomina a descontinuidade, com desvios da distribuição normal (a famosa curva gaussiana) que, até agora, equilibrava a maior parte dos fenómenos naturais, sociais e económicos.

Parece que o termo médio está a desaparecer em muitas áreas da atividade humana. Na política, as eleições italianas ilustram mais uma vez a crescente deriva extremista do voto maioritário, realçando a ponderação de Portugal nesse sentido. Na cultura, convive hoje a grande inteligência com a máxima estupidez. No clima, passámos da seca extrema à chuva contínua e deprimente. No retalho, o espaço das principais artérias comercias de qualquer cidade distribui-se na sua totalidade entre as marcas do luxo mais exclusivo e as cadeias low cost. Na economia, assistimos à polarização da criação da riqueza, nas mãos dos novos príncipes digitais, e à grande desigualdade na sua distribuição.

Caminhamos para um mundo binário, sem continuidade e sem termos médios, em que as médias estatísticas perdem o seu sentido e temos que recorrer a variáveis de ordem superior para o entender. Nessa base, serão precisas doses redobradas de ponderação, bom senso e pragmatismo realista se quisermos garantir a paz e manter a coesão que caracterizou o modelo social europeu nas últimas décadas.