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O Fulgor do Centro Político

Em Portugal, antecipa-se no espaço público e publicado, que existirão eleições, também elas antecipadas, pois o que circunda um encurralado Costa já não é mais que um Frankenstein rosa a perder peças enquanto se arrasta.
9 Fevereiro 2023, 07h15

Numa Conferência realizada na semana passada, no Funchal, a propósito da “Crise na Participação Política – O Desafio da Década”, e englobada no compromisso 2030, que produzirá as linhas mestras da proposta política do PSD Madeira para as Regionais deste ano, o convidado Durão Barroso, lucubrou, a determinada altura, acerca de um certo amorfismo atávico dos partidos do centro, os partidos ditos moderados, percursores do antigo conceito do “arco da governação”, em contraposição com ímpeto, capacidade de combate, e falta de acanhamento dos partidos das margens, partidos radicais ou extremistas, que imprimem uma dinâmica capaz de preencher o espaço mediático.

Sendo esta uma evidência, logo surgem as acusações que os partidos do centro, ou do pejorativamente intitulado “centrão”, estão acomodados, reflexo de dirigentes também eles refastelados em cargos que não exigem sangue na guelra e vontade de combater politicamente. Ter medo de apontar as insuficiências ao adversário, com receio que faça ricochete, tornando o nobre instrumento do debate político num caldo morno, é um risco dos nossos tempos.

Encaixando na figura caricaturada do “burguês anafado”, em poema por Ary dos Santos.

Pois bem.. são precisamente os partidos do centro que têm de encontrar soluções que demonstrem à sociedade, e a uma sociedade sem grande tempo e disponibilidade para cruzar dados, informações ou propostas, que continuam a ter as melhores pessoas (e continuam, de facto), os melhores programa, e que são o garante essencial para democracias ameaçadas. Não também não podem perder identidade, ficando-se pelo vago conceito de indiferença, sublinhando, isso sim, que centro-direita e centro-esquerda, comungando dos valores das democracias liberais e do europeísmo, têm propostas distintas.

Durão deu o exemplo de França, onde o Histórico PSF praticamente desapareceu, deixando o socialismo para radicais como Jean Luc- Melanchon. Do mesmo modo, a direita Gaullista, sempre dependente duma figura de referência, à falta de referências partidárias que tradicionalizasse o voto numa força política, sucumbiu aos escândalos do último moicano, Sarkozy. O Gaullismo tinha o condão de radicalizar o discurso em tempo de campanha, moderando no exercício do poder (bom, nem sempre) mas impedindo a extrema direita de crescer. O Centro direita e o Centro esquerda esvaziaram-se emergindo um centro sensaborão, excessivamente “centralizado” na figura de Herói BD-POP-Charme, Macron que se vem mantendo no poder porque uma das extremas acaba por engolir um sapo, a cada segunda volta, escolhendo-o a si para impedir a ascensão do partido do extremo oposto.

Mas chegará o dia em que os extremos tocar-se-ão, finalmente, e o discurso antissistema valorizará a refundação de uma nova República Francesa, plena de identificação consigo própria, que “moralizará” toda a (suposta, alegada) decadência dos sistemas democráticos, unindo esforços para retirar da cadeira qualquer Macron que a ocasião tenha colocado no Eliseu.

Recorde-se que no Brasil, Lula e Bolsonaro nunca disfarçaram a sua admiração por Putin e pelo regime Russo. Os extremos têm sempre mais ponto de ligação do que eles próprios concedem em admitir.

A Inevitável ida de Costa para a Europa

Em Portugal, antecipa-se no espaço público e publicado, que existirão eleições, também elas antecipadas, pois o que circunda um encurralado Costa já não é mais que um Frankenstein rosa a perder peças enquanto se arrasta.

Marques Mendes, tantas vezes a voz informal de Belém, aponta para “entre Outubro e Dezembro de 2024”, a realização de legislativas. Porquê nessas datas, reflete o leitor? Esse prazo está muito distante do ano de tolerância concedido por Marcelo a António Costa, que terminará em janeiro do próximo ano. E poucos conseguem vislumbrar que o Governo se aguente, ainda assim, até essa data.

Ora.. Outubro de 2024 é a altura em que a nova Comissão Europeia, e o novo presidente do Conselho Europeu, tomarão posse. Costa, caso os Socialistas europeus fiquem em segundo lugar nos mandatos para o parlamento europeu, fica na pole position para render Charles Michel de má memória, já que ninguém perceberia uma mudança de Von der Leyen, ainda mais com uma previsível vitória do PPE. E com o governo em claro estertor, todas as dúvidas de Costa sobre uma saída à francesa para um alto cargo europeu ter-se-ão dissipado. E não me admira que tenha já comunicado, numa qualquer quinta-feira, ao Presidente Marcelo.

Nota: Se PSD, IL e CDS-PP conseguirem ter mais deputados que a esquerda, como apontam as mais recentes sondagens, basta uma abstenção do CHEGA para, mais do que viabilizar um governo de direita, impedir a continuação do socialismo governativo. Ou seja. O Chega não tem de aprovar nada. Se realmente quer tirar o socialismo, basta não se mexer. Ou cairá a máscara de vez, e comprovar-se-á que o que pretendem os seus dirigentes é, de facto, o acesso ao “pote” dos Ministérios, como já afirmaram?

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