Depois do União, na época passada, esta temporada foi a vez do Nacional, formação madeirense que conta com várias participações na Liga Europa, mas que desde muito cedo evidenciou sinais de fragilidade que previsivelmente viriam a culminar com uma época a contrastar com as anteriores.
O que é facto é que o Nacional liderado por Rui Alves correu vários riscos desportivos, sobretudo devido a opções tardias ou erradas em termos de estruturação do plante para a presente temporada e a procura de soluções técnicas à medida que descia na tabela classificativa, jornada após jornada.
Manuel Machado foi substituído muito tardiamente – segundo os vários comentadores desportivos locais –– no comando do Nacional substituído pelo sérvio Predrag Jokanovic, antigo jogador do clube e conhecedor profundo da realidade regional, mas que estava longe de ser a aposta considerada a mais adequada ao momento mau da equipa insular.
Tanto foi assim que o treinador sérvio demorou escassas semanas no comando técnico da formação insular substituído no final de Março por João de Deus vindo do comando do Sporting B.
O Nacional acabou por ser obrigado a realizar uma temporada na qual disputou a sua sobrevivência ao ponto, agravada com o facto de não ter recursos financeiros suficientes para ter procurado reforços no início do ano. A despromoção começou a constar dos horizontes da formação insular que a três jornadas do final da prova estava definitivamente relegada ara a II Liga.
Tal como aconteceu com o União, o Nacional prepara-se para uma sangria do seu plantel, apesar do contestado presidente Rui Alves ter revelado a intenção de continuar no cargo e de lutar pela subida de divisão na próxima temporada.
A redução das receitas, quer as provenientes da transmissão televisiva dos jogos, quer dos apoios oficiais do governo insular – que privilegiam a sobretudo as formações regionais que militam na I Liga – são obstáculos mais do que óbvios a um investimento significativo na formação do plantel da próxima época, já que é previsível uma saída de inúmeros jogadores do plantel agora despromovido.
Presidente contestado
O presidente do Nacional, Rui Alves, agora contestado publicamente por setores do clube madeirense, já anunciou querer manter-se no cargo para tentar o regresso ao primeiro escalão do futebol nacional.
Alves foi obrigado a defender o administrador com a pasta do futebol, Gustavo Rodrigues, das críticas provenientes de árias entidades, incluindo o próprio líder da Assembleia Geral do clube, Miguel de Sousa, e assumiu a responsabilidade pelos maus resultados e pelo fracasso da época.
“Não posso estar em silêncio, nem satisfeito com a situação, porque é injusto. Mas não há nenhuma decisão do futebol que não passe pelo Conselho de Administração. É completamente errado estar a responsabilizar alguém por uma época que reconhecemos, não correu como era expectável”, disse numa nota publicada no site do clube.
Rui Alves defendeu-se e criticou…os críticos: “Lamento que sejam os próprios nacionalistas, alguns com responsabilidade, que neste momento deviam debater a situação internamente mas ao invés disso criam espaço para que estas situações sejam passadas para praça pública, criando a ideia de um clube dividido. Acho que os nacionalistas têm espaço para discutir os problemas internamente. Não me estou a rever em muitas das coisas que se têm passado. Temos permitido uma invasão para a discussão de muitas pessoas que nada têm a ver com o Nacional”, sublinhou o líder nacionalista.
E agora Marítimo?
Neste quadro futebolístico resta o Marítimo, considerado “o maior das ilhas”, indiscutivelmente com a estrutura mais profissional e melhor preparada para a I Liga e que esta época teve a sorte do seu lado.
Ao substituir o treinador brasileiro que começou de forma desastrada a época 2016/2017 e foi acusado de não conhecer o futebol português e de estar distante da nova realidade tática do futebol, o Marítimo foi feliz com essa mudança e foi graças a ela que recuperou de uma época que inicialmente parecia correr o risco de se transformar-se num pesadelo.
De facto o treinador brasileiro Paulo César Gusmão deixou o comando técnico do Marítimo em Setembro do ano passado, protagonizando a primeira “chicotada psicológica” da I Liga portuguesa de futebol esta época.
Gusmão, de 54 anos, chegou ao Marítimo a 1 de junho do ano passado, mas a sua primeira experiência no futebol europeu durou apenas três meses e meio, graças aos maus resultados no arranque da temporada. O brasileiro quando saiu do clube madeirense deixou o Marítimo, após as cinco primeiras jornadas – 1 vitória e 4 derrotas – em penúltimo lugar da tabela classificativa com três pontos e somente um golo marcado.
O segredo da excelente época do Marítimo que continua a lutar por um luta na Liga Europa ficou a dever-se à escolha do treinador, com o Marítimo a escolher o então treinador do Santa Clara dos Açores, Daniel Ramos, que já fora no passado treinador do União e, por isso, um conhecedor do futebol regional Madeirense.
Ramos iniciou uma excelente recuperação pontual do Marítimo que sob o seu comando nunca perdeu no Funchal – nenhum dos “grandes” passou nos Barreiros sob o seu comando – aparecendo nas últimas jornadas a disputar um lugar europeu (6º com 48 ponto menos 3 que o Braga que é 5º)
Neste contexto a curiosidade reside agora em saber o que vai fazer o clube liderado por Carlos Pereira.
Isto porque em Março do ano passado, Pereira em declarações aos jornalistas defendeu a necessidade da Madeira “apostar num único clube na I Liga”.
“Se fizermos um termo comparativo com Lisboa, a Madeira tem clubes a mais na I Liga. Vou continuar a bater na mesma tecla e vou continuar a fazer a defesa da Madeira em termos de qualidade e afirmação no espaço nacional”, disse em conferência de imprensa.
Para Carlos Pereira, é “fundamental apostar na ideia de um clube por região para poder estar ao nível de equipas como o Sporting de Braga. Se quisermos ficar equiparados ao Braga ou ao Guimarães, temos forçosamente de caminhar para um clube, uma cidade e uma região senão não vamos ter especialização em nada”.
Referindo que se pronunciava enquanto “cidadão, dirigente e presidente do Marítimo”, Carlos Pereira insistiu no “sonho de ver uma equipa madeirense a jogar na Liga dos Campeões” que disse sair “prejudicado pela existência de vários clubes regionais, o que impede a concretização de um grande benefício para os madeirenses”.
“Seria mais fácil atingir esse objetivo com apena sum clube da Madeira porque estaríamos todos a trabalhar em prol desse objetivo mas o que estamos a fazer é dividir e a tornar esse caminho mais difícil”, concluiu.
Consumada a realidade preconizada por Carlos Pereira a dívida reside agora em saber quais as opções do Marítimo para a próxima época, numa altura em que estão concluídas as obras de reconstrução do novo Estádio dos Barreiros, o chamado “caldeirão” onde poucas equipas se podem vangloriar de sair com pontos.
E agora?
Perdendo claramente influência nas instâncias mais importantes do futebol profissional nacional – uma coisa é ter 3 clubes na I Liga, outra é ver esse número reduzido a apenas uma formação – e confrontada com a dúvida sobre se existirão nos próximos anos condições favoráveis para que União e Nacional regressem ao convívio dos “grandes” do futebol nacional, não é exagerado admitir que o futebol madeirense se encontra numa nova encruzilhada. E que, provavelmente, alguma reflexão será feita poe entidades oficiais e dirigentes desportivos, situação que pode conduzir à tomada de decisões passíveis de provocar mudanças na realidade atual.
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