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O futuro da Bitcoin

É importante perceber quais as características que fazem de dinheiro bom dinheiro, para podermos perceber o valor da Bitcoin.
11 Fevereiro 2019, 08h27

Foi em finais de 2008, poucos meses depois do início da última grande crise económica, que um cibernauta de pseudónimo Satoshi Nakamoto publicou online um artigo que descrevia o funcionamento de um sistema inovador para a emissão e transferência de moedas virtuais. Nesse dia o mundo conheceu a Bitcoin, a primeira das criptomoedas.

Devido à sua natureza complexa, são necessários vários conhecimentos técnicos para entender o seu funcionamento e potencial. E em nada ajuda o ecossistema diverso – e em boa parte fraudulento – que se formou em torno desta tecnologia. Reflexo disso, são as cada vez mais comuns notícias de fortunas ganhas e perdidas, de mercados negros e de esquemas Ponzi.

Quando surge uma grande inovação, é de sua natureza romper com o statu quo, impondo uma mudança sobre as crenças e costumes das pessoas e das organizações envolvidas, bem como uma adaptação aos novos fins e meios. Qualquer mudança tende a ser combatida com resistência, mesmo quando portadora de algo melhor, principalmente havendo interesses em causa.

No caso da Bitcoin, a inovação consiste numa nova forma de dinheiro onde o statu quo que se pretende romper é todo o sistema financeiro vigente a nível mundial. Os interesses em causa são imensos. Somente algo com características equivalentes às da Bitcoin é que conseguiria enfrentar um tal Golias, fazendo uso de engenho e habilidade para combater um oponente de tamanho muito superior.

Sou crente na Bitcoin e pretendo apresentar as suas vantagens para com a essência vital dos sistemas financeiros modernos, o dinheiro fiduciário. Entenda-se que uso o termo Bitcoin de forma lata, referindo-me a qualquer tecnologia blockchain que assuma características equivalentes à mesma.

A invenção do dinheiro surgiu nos primórdios do comércio como meio facilitador para a compra e venda de bens, em alternativa a permutas diretas. Ao longo do tempo, foram criadas várias formas de dinheiro, umas substituindo outras. Porém, houve certas formas de dinheiro que possuíam características que as tornaram melhores que outras. O ouro possui características especiais que fazem dele uma boa forma de dinheiro, sendo por isso que permaneceu como forma de dinheiro ao longo de milénios.

É importante perceber quais as características que fazem de dinheiro bom dinheiro, para podermos perceber o valor da Bitcoin.

A Bitcoin é escassa por natureza. Só pode haver vinte e um milhões de Bitcoins em existência e nunca poderá haver mais. A sua emissão é previsível, sabemos quantas Bitcoins existirão amanhã, no próximo ano, nas próximas décadas e dentro de um século. A última fração será emitida em 2140.

Em contrapartida, o dinheiro fiduciário, usando o euro como exemplo, é emitido às centenas de milhares de milhões todos os anos, uma atividade conhecida como inflação ou desvalorização monetária. A sua emissão é planeada pelo Banco Central Europeu, variando mediante o contexto político e económico, não sendo possível prever a sua emissão com exatidão nem havendo limite para a sua quantidade. Por cada novo euro emitido, todos os euros existentes perdem valor.

A Bitcoin é infalsificável. Cada Bitcoin é única e em nada pode ser alterada. O mesmo não se pode dizer de dinheiro fiduciário, ou até de ouro, que pode ser diluído com tungsténio. Esta é a maior invenção na Bitcoin e a menos bem compreendida.

Semelhantemente a dinheiro fiduciário, a Bitcoin é divisível, porém cada unidade pode ser dividida em cem milhões de partes e há planos para aumentar este número. Isto é praticamente impossível com ouro e diamantes. Contrariamente ao dinheiro fiduciário, é extremamente duradoura. Cada uma é guardada digitalmente por milhares de computadores distribuídos pelo mundo.

Lembremo-nos do que aconteceu ao dinheiro guardado no BPN, ou ao dinheiro dos cipriotas durante a crise, ou recentemente ao bolívar venezuelano que sofreu uma inflação de tal ordem que perdeu todo o seu valor. E também do que tem vindo a acontecer ao dólar, que perdeu mais de 83% do seu valor desde a sua conversão para dinheiro fiduciário em 1971.

Em boa verdade, a esperança média de vida de um dinheiro fiduciário é de 27 anos – isto é menos tempo que a carreira de Miguel Relvas, que curiosamente começou a trabalhar numa empresa que opera com… blockchain.

Finalmente, a Bitcoin é transferível para qualquer parte do mundo, quase instantaneamente, sem haver ninguém que o possa impedir. Isto é completamente diferente de qualquer outra forma de dinheiro. Transferências internacionais podem demorar vários dias, e, em certos casos extremos, podem até ser impedidas e o dinheiro confiscado. Uma Bitcoin é incorpórea e imparável e tão veloz quanto a internet.

Todas estas características fazem da Bitcoin a fénix dos dinheiros. São caraterísticas de dinheiro supremo, as quais só agora estamos a começar a compreender. Trata-se de uma invenção que promete prosperidade para a humanidade, em formas que ainda estão fora do alcance da nossa imaginação.

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