Longe de ser mais um domingo de verão, 15 de agosto de 2021 junta-se a outras datas que viverão na infâmia, como o 11 de setembro de 2001, quando terroristas islâmicos lançaram aviões cheios de passageiros contra as Torres Gémeas e o Capitólio. Confirmando a frase esquecida “isto anda tudo ligado”, em menos de 20 anos fechou-se um ciclo para os Estados Unidos, mas não só, pois a reentrada dos talibãs em Cabul é um desastre que assombrará o Ocidente muito depois de o constante bombardeamento de novidades apagar da memória as impressionantes imagens a que assistimos nos últimos dias.

Testemunhar como alguns dos desesperados afegãos que acorreram ao aeroporto de Cabul se agarraram à fuselagem de aviões que procuravam descolar por entre a multidão, preferindo uma queda para a morte semelhante à daqueles que saltaram dos últimos andares no World Trade Center, deveria envergonhar os responsáveis pela devolução de um povo ao qual prometeram liberdade ao jugo de fundamentalistas que estão a convencer os mais crédulos de que não são iguais aos que escravizaram mulheres, exterminaram homens e acolheram Bin Laden.

Mas o sofrimento daqueles que estão a ser deixados à sua sorte e forçados a ouvir Biden culpá-los pelo regresso às trevas que se avizinha deveria também servir para que todos os cidadãos de países democráticos, dotados de liberdades individuais – ainda que imperfeitas e necessitadas de constante defesa perante quem encontra sempre boas intenções para lhes impor limites –, tomassem consciência do preço a pagar por aquilo que deveríamos ter por mais sagrado.

Por muito que se opte por um revisionismo autodepreciativo, a presença no Afeganistão dos Estados Unidos e de outros países, incluindo Portugal, permitiu que uma geração de mulheres pudesse crescer sem as regras da xaria. E abriu horizontes muito facilmente desvalorizados por ocidentais obcecados em redefinir pronomes, reconstruir o passado e cancelar tudo aquilo com que não concordem, num grande desastre (não só) americano que nem necessita de talibãs para nos enfraquecer.