Hoje em dia é comum falar-se de disrupção para nos referirmos à mudança acelerada de muitos aspetos da nossa vida e da economia, mas por vezes não se distingue as diversas facetas dessa disrupção, distintas ainda que interligadas.

Temos assistido a transformações rápidas e profundas como o ressurgimento do populismo e do nacionalismo, de que resultou o Brexit ou a eleição de Trump e de outros líderes políticos que defendem o protecionismo, combatendo a globalização, sustentando-o nos efeitos perniciosos que tem como a desigualdade, mesmo que em simultâneo eleve grandes parcelas da população global acima do limiar de pobreza.

Também os fenómenos das alterações climáticas se têm intensificado e diversificado, resultando em recordes que são excedidos quase todos os anos de situações extremas, desde intempéries e cheias a secas dramáticas como a que quase levou à rutura do abastecimento de água à Cidade do Cabo na primavera.

Paralelamente, o génio humano trouxe-nos tecnologias que já não se limitam a trabalhar ao lado da pessoa, antes aumentam as suas capacidades e a informação que lhe está disponível, amplificam os seus sentidos e potenciam os seus músculos e o seu intelecto: drones, que nos permitem explorar o mundo de perspetivas anteriormente inacessíveis; óculos que interpretam e complementam o que vemos com informação extra que detetam ou obtêm da internet; roupas que analisam os nossos sinais vitais e nos fazem recomendações para aumentar o desempenho do nosso corpo em atividade física; e assistentes pessoais virtuais que nos acompanham permanentemente no nosso telemóvel e executam por nós tarefas do dia-a-dia, bem como respondem a dúvidas ou necessidades de informação que lhes colocamos dialogando através de linguagem natural, são alguns exemplos.

Estas forças colidem e combinam-se resultando em tendências como o envelhecimento ativo, fruto de tecnologias que atenuam os efeitos do declínio físico associado à idade, permitindo uma realização muito mais plena da vida humana que tende também a ser cada vez mais longa. Ou a radical alteração da definição de emprego, num mundo em que os robots estão a substituir as pessoas em cada vez mais tarefas de todo o tipo, dando um significado diferente às profissões, às reforma e ao pacto social que nelas assenta.

Longe de ser a maldição que alguns consideram o viver-se em tempos interessantes como estes, é provavelmente mais sensato considerarmos que com estes tempos vêm sim, oportunidades que há que explorar, mas também riscos que há que dominar.