Num Verão que já vai adiantado, talvez o mais importante seja relembrar que com ou sem vacina, teremos de voltar a abrir escolas e universidades ao ensino presencial enquanto modo mais rico e produtivo de ensinar e aprender. Este é um processo inevitável, com todas as implicações que isso terá na forma como organizamos o trabalho nas empresas e instituições.
Contudo, enquanto Setembro não chega, gostaria de deixar aos leitores três sugestões de leitura para as férias.
Rubem Fonseca, provavelmente o escritor brasileiro (e de toda a língua portuguesa?) mais relevante da segunda metade do século XX, e o homem que inventou o policial moderno, deixou-nos em Abril deste ano. A prática profissional enquanto advogado e comissário da polícia, com fortes conhecimentos de medicina legal, ter-lhe-á fornecido o contexto e o suporte sobre o qual a sua obra se desenrola. Prémio Camões em 2003, e várias vezes vencedor do Prémio Jabuti, Rubem Fonseca lega-nos um conjunto de obras sempre plenas de tensão narrativa, de que “Calibre 22” (Editora Sextante), com as suas vinte e nove ‘estórias’ curtas, é um bom exemplo. Leitura de um só fôlego, em versão urbana, violenta, mas erudita, afinal a marca distintiva deste autor. E uma boa porta de entrada para os seus romances, de que destaco “A Grande Arte”.
Afonso Cruz, apesar da sua juventude, já é um autor português consagrado. Com o seu mais recente “Os livros que devoraram o meu pai” (Editora Caminho), deixa-nos com um miúdo, Elias Bonfim, de doze anos, que perdeu o pai, alegadamente vítima de um ataque cardíaco. O progenitor, funcionário das finanças entediado, tinha o hábito de levar consigo novelas e romances para a repartição onde exercia. O filho desconfia que o pai terá desaparecido dentro de um dos livros. Consequentemente, resolve procurá-lo na biblioteca do sótão familiar, com tardes inteiras de leitura. Ali, seguindo as pistas que o pai fora deixando em inúmeras anotações nos livros que lera. Fascinante.
Depois do fabuloso “Prisioneiros da Geografia”, o jornalista Tim Marshall regressa com “A era dos muros” e com ela a geopolítica e o tentar dar sentido a uma das estupefações do nosso tempo: como é que num mundo cada vez mais global se percebe que existam cada vez mais muros físicos entre países. Raça, religião, política e níveis de riqueza, parecem desempenhar o papel principal.
Boas leituras!
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.