Foram inúmeros os casos que fustigaram a imagem do Governo neste Verão. Marta Temido foi a chefe-de-fila com a evidente degradação do Serviço Nacional de Saúde, sobretudo na área da ginecologia e obstetrícia. Mas houve o tema Sérgio Figueiredo, que ainda não está encerrado e danificou a reputação de Fernando Medina, uma secretária de Estado que tentou justificar a tragédia da área ardida com um algoritmo e a ministra Mariana Vieira Silva, habitualmente sensata e ponderada, a ajudar à festa afirmando que a Serra da Estrela vai ficar melhor. Tudo isto se passava enquanto António Costa estava de férias, e tem direito a elas.

Foi uma orquestra sem maestro, em que os solistas em vez da harmonia só provocaram ruído e balbúrdia, algo que é inimigo de uma sinfonia agradável e inspiradora. Esse foi o som da descoordenação política acumulada com erros comunicacionais, fruto de alguma sobranceria e tendência para a relativização dos problemas. Ora, isso é algo que irrita os portugueses, pois nenhum membro do Governo tem a capacidade ou talento para encantador de serpentes e o caos dos serviços públicos não tem qualquer hipótese de ser varrido para debaixo de qualquer tapete, visto ser claro e cristalino.

Marta Temido decidiu sair agora. Não só pela morte de uma grávida mas porque se fartou de não ter o apoio nítido do primeiro-ministro, ao contrário daquele que sentia de Belém. Notava-se que perdeu a leveza e tranquilidade com que sempre geriu a sua pasta, e a sua expressão estava há algum tempo carregada e pouco feliz. Para os portugueses, durante a pandemia, Marta Temido foi uma boa ministra e essa percepção era transmitida em todas as sondagens que a davam como a mais popular do Executivo. Mas Marta Temido era ministra da Saúde e não apenas “ministra Covid”. É assim fácil de julgar, como afirmei na CNN, que foi uma excelente ministra de guerra (à pandemia) que fracassou na normalidade.

O SNS tem problemas de décadas, precisa de reformas e, sobretudo, de boa gestão de recursos e investimento em capital humano. O orçamento do Ministério é equivalente ao dinheiro que recebemos da bazuca, como o próprio António Costa frisou, logo, não há falta de dinheiro, apenas a capacidade de gerir um sector difícil e com muitos interesses.

Não podemos deixar de dizer que Portugal é pródigo em novidades. Somos o país do mundo onde mais tempo os bastonários de Ordens passam nas televisões, sendo o dos Médicos recordista mundial. É tempo deste “doutor” decidir se quer ser líder sindical ou líder da oposição, pois o tempo que passa no espaço mediático é óptimo para a sua promoção pessoal, mas não é amigo de uma classe que merece todo o respeito e agradecimento dos seus concidadãos. E espero não o ver saltar para um qualquer cargo político, como já aconteceu com anteriores bastonários (e também de outras corporações), pois isso provaria que a sua motivação era outra.

A mudança da ministra será difícil mas não será uma crise política. Agora é preciso uma injeção de bom senso no Governo, para não se cometerem tantos erros e ficarem manchas de borrões. O que vale ao PS, mais uma vez, é que estamos em Setembro e o mata-borrão de qualidade (nas palavras de Marcelo Rebelo de Sousa) voltou de férias.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.