Uma das grandes contribuições de Hollywood para a imagem dos Estados Unidos foi a construção da percepção de invencibilidade bélica do exército norte-americano. O que Hollywood jamais contou, de fato, foi que, desde a Segunda Guerra Mundial, à exceção da vitória no combalido Iraque, os Estados Unidos não têm vencido nenhuma guerra.

Causam estragos profundos, é verdade. Mas vencer, de fato, não. No entanto, debaixo desse mito, os Estados Unidos interferem na soberania dos países, instalam bases militares noutros (também reduzindo-lhes o exercício pleno da soberania), e sob a alegação missionária de propagação do evangelho da democracia liberal, provocam guerras por procuração para atingir seu único objetivo de manutenção da hegemonia.

O desastre que vemos na Ucrânia é um exemplo disso. Na tentativa de colapsar a Rússia, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), sob o pretexto de contenção da Rússia e de Vladimir Putin, equivocadamente buscou expandir-se até às portas daquele país, rompendo um acordo desde o fim da Guerra Fria da manutenção de áreas de influência. Talvez ainda sob a sedução retórica de Barack Obama, que afirmou que a Rússia nada mais era do que uma potência mediana, os países da NATO flertaram com a ideia da expansão.

E o resultado é o que vemos acontecendo: uma guerra de procuração em que a Ucrânia arca com todo o custo da guerra – inclusive a tragédia demográfica – para, eventualmente, beneficiar a manutenção da hegemonia norte-americana e de seus aliados num segundo plano. Além disso, a tentativa de humilhar a Rússia com uma derrota foi, sem dúvida, uma das forças motrizes que levou Boris Johnson e Joe Biden a forçarem os ucranianos a desistirem de qualquer acordo de paz.

O fato é que vencer a Rússia não é uma tarefa fácil. A Ucrânia não tem condições para isso, porque não tem nem a máquina de guerra, os recursos econômicos e humanos para fazê-lo. E, paulatinamente, Volodymyr Zelensky começa a dar-se conta de que o Ocidente tem enorme capacidade de falhar em suas promessas. Ao insistir na guerra, Zelensky corre o risco de ser lembrado em seu país como o presidente que mais território e vidas humanas perdeu numa guerra. Esta culpa ele não conseguirá compartilhar com a NATO.

Desde 24 de fevereiro de 2022, a contraofensiva ucraniana jamais se efetivou. Por outro lado, Putin viu a economia russa crescer, comprovou que sanções internacionais não funcionam, aumentou a parceria com a China e, para coroar a sua atuação, foi reeleito ainda com mais votos que no pleito anterior (embora sempre haja controvérsias sobre as eleições russas).

Até quando esta guerra perdurará, ainda não sabemos. O cessar-fogo e aceitar a perda territorial parecem ser a solução viável. A única coisa que temos claro é que a Europa empobreceu, paga mais pelo custo de energia e aumentou sua dependência militar dos Estados Unidos, que também perderam o seu prestígio como parceiro confiável. E o mundo ficou mais inseguro. Será que Hollywood vai continuar a sustentar a imagem que construiu?