A economia circular existe há já algum tempo e é um instrumento poderoso de criação de valor, contribuindo simultaneamente para a proteção dos recursos naturais e dos habitats sociais. Pode aumentar a resiliência das zonas económicas, reduzir o stresse nos sistemas sociais e direcionar a adaptação das indústrias e empresas para a recuperação e regeneração da natureza.

Embora não seja um sistema perfeito, oferece novas perspetivas sobre a forma como as empresas criam valor

O valor em primeiro lugar, o dinheiro em segundo. Ao compreender que as empresas e as respetivas redes de abastecimento constituem um fluxo de valor, surgem oportunidades de crescimento inéditas ou pouco exploradas que podem aumentar a obtenção de lucros. Se considerarmos os modelos de negócio como a arquitetura subjacente às atividades de cada empresa para criar, fornecer e captar valor, o negócio da economia circular torna-se ainda mais interessante.

Expandir a visão sobre as relações transacionais entre produtor e cliente, incluindo outros intervenientes na cadeia de valor, tais como parceiros comerciais, utilizadores de bens em segunda mão e restauradores, permite a inovação de processos, tecnologias e modelos de negócio – imagine um produtor a gerir a sua própria empresa de reparação, reciclagem ou revenda, sendo um perito de confiança. Sim – os investimentos nestas inovações requerem uma compreensão da cadeia de valor, mas oferecem um novo terreno de jogo.

Uma vantagem competitiva acentuada para aqueles que aplicam na íntegra a economia circular e os dados que lhe estão associados

Enquanto anteriormente a economia circular se baseava em objetivos de médio e longo prazo, atualmente está a tornar-se um imperativo de curto prazo: a União Europeia (UE) e os seus principais intervenientes identificaram as oportunidades que advêm da transição para uma economia circular, incluindo um maior controlo sobre os recursos, a qualidade dos produtos, os preços e a independência em relação às importações de recursos.

A UE também o expressa através do sistema único de apresentação de relatórios para a economia circular (CSRD/ESRS E5 – Corporate Sustainability Reporting Directive (europa.eu)), segundo o qual as empresas devem divulgar indicadores ESG claros, incluindo objetivos, políticas, ações e métricas, para fazer face aos impactos e medir as ações, nomeadamente em matéria de:

  • Processos para identificar e avaliar a utilização de recursos materiais e os impactos, riscos e oportunidades relacionados com a economia circular.
  • Políticas, ações e recursos atribuídos à utilização de recursos e à economia circular.
  • Objetivos relacionados com a utilização de recursos.
  • Entradas e saídas de recursos.
  • Potenciais efeitos financeiros decorrentes da utilização de recursos, e de impactos, riscos e oportunidades relacionados com a economia circular.

Este modelo de relatório incide nas melhorias relativas à descarbonização, biodiversidade, e responsabilidade social, e na promoção da capacidade, segurança e estabilidade da economia da UE.

Os benefícios são fáceis de identificar, mas ainda existe um défice de financiamento.

O financiamento constitui uma lacuna comum a ultrapassar em qualquer transição. A nova taxonomia da UE (Actos Delegados/Anexo II) pode ajudar a colmatar essa lacuna, permitindo que os intervenientes do sector financeiro e as organizações que recebem investimentos trabalhem juntos de forma mais eficiente, através de conceitos comuns.

Tendo em consideração fundos governamentais de grande dimensão e obrigações “verdes”, entre outros, assim como indicadores ESG no mercado de ações, novas formas de empréstimos, metas de eficiência de recursos e sanções, chegou o momento da economia circular organizada e controlada.

Aqueles que têm coragem suficiente para avançar podem agora passar à frente dos outros

Na sua essência, a economia circular oferece oportunidades promissoras através dos progressos em curso nos domínios regulamentares. Qualquer pessoa que se atreva a criar, fornecer e captar valor de novas formas será capaz de promover operações comerciais sólidas e estimulantes destinadas a durar, e a colher lucros.