Pelo menos ao longo da última década, sempre que atravessámos a Ponte Vasco da Gama fomos testemunhas dos mariscadores da apanha da amêijoa que arriscavam as suas vidas nas margens no rio Tejo.

A semana passada, na sequência da morte de dois mariscadores nas margens do rio Tejo, a Polícia Marítima ativou uma “mega-intervenção”, no âmbito da Operação King. Esta operação teve como objetivo combater as redes criminosas associadas à captura ilícita, comércio e tráfico internacional da amêijoa japónica.

Aparentemente, terá sido desmantelada a maior rede nacional de apanha e comércio ilegal de bivalves. Depois da apanha ilegal em Portugal, a maior parte destes bivalves tinha como destino Espanha, Itália e Holanda.

É evidente que o País fica muito grato à Polícia Marítima pelo sucesso deste desmantelamento, mas o feito também teve  o envolvimento e a colaboração da ASAE, da PSP e da polícia espanhola. Porém, é importante que este negócio que movimenta muitos milhões não reapareça em breve com novos protagonistas.

Este negócio ilegal existe à custa da exploração de mão de obra imigrante ilegal que recebe miseravelmente, cerca de dez a 30 euros por dia, para arriscar a vida no Tejo que, como todos sabemos, é muito traiçoeiro.

Estima-se que são apanhadas 20 a 30 toneladas de amêijoa por dia. Ou seja, é um negócio (ilegal) mais de 10.000 toneladas por ano. Estes imigrantes ilegais – maioritariamente nepaleses, tailandeses e nigerianos – chegam a Portugal na busca de um sonho e de uma vida melhor, mas infelizmente acabam nas mãos de redes criminosas.

A semana passada, após o desaparecimento de dois homens mariscadores que estavam a apanhar amêijoa no rio Tejo, junto ao Cais do Seixalinho, o Cardeal D. Américo Aguiar denunciou, e bem, a exploração ilegal de que homens e mulheres são sujeitos há muitos anos nas margens do Tejo.

Na comunicação o Bispo de Setúbal com o título “A indiferença pelo sofrimento humano”, penitenciava-se pelo facto de sentir-se impotente na capacidade de ajudar “mais dois irmãos nossos, reduzidos ao nome de ‘mariscadores’, que morreram no Tejo. Indostânicos – Bangladesh, Butão, Índia, Maldivas, Nepal, Paquistão, Sri Lanka – ou portugueses, não é o que aqui importa. São irmãos nossos, irmãos meus”.

O trabalho das polícias provavelmente estará quase concluído, mas a componente de apoio social a estes imigrantes ilegais carenciados ainda está por fazer. E aí, não posso estar mais de acordo com o “grito de revolta” do Cardeal Américo Aguiar.