A BYD, marca de carros elétricos chinesa, cancelou esta semana a construção de uma fábrica no México. O argumento é extraordinário e real: suspeitam que pode haver fuga de informação para os EUA sobre as baterias. Os chineses sabem do que falam.

Na mesma semana em que o investimento foi posto na prateleira, a empresa, que tem o americano Warren Buffet entre os seus acionistas, um homem de faro apurado para as trufas económicas, anunciou que resolveu um dos maiores problemas dos motores elétricos: o carregamento – daqui para a frente, bastam cinco minutos para dar uma nova vida de 470 quilómetros de autonomia ao BYD.

O galáctico Elon Musk deve ter ficado de boca aberta e não foi o único. As consequências vão ser devastadores. Nenhuma outra marca está perto de dobrar este cabo das tormentas e as vendas de elétricos, mas também nos motores a combustão vão sofrer um impacto frontal equivalente a 10 na escala de Richter. O que concluir deste extraordinário ‘salto em frente’? Que a China tem ótima engenharia, que aprendeu muito depressa com os europeus a construir carros de qualidade e que não vale a pena a União Europeia insistir em aplicar tarifas trumpianas aos fabricantes chineses porque é um completo tiro no pé.

Se a proteção do ambiente é mesmo para levar a sério, a Europa tem de dar corda aos sapatos – mas não com protecionismo anacrónico. O caminho passa por deixar o mercado funcionar, porque só este choque competitivo pode levar as grandes marcas da UE a encontrar a forma de competir com a China nesta área tão relevante (pelo efeito multiplicador e transversal) da economia. Se é verdade que há setores onde a concorrência chinesa apenas sobrevive encostada aos subsídios do pai-estado, a BYD já tem rodas para andar e deu uma valente lição a Musk e a tutti quanti.

Na verdade, esta é a segunda magnum opus neste ainda imberbe 2025, depois do recente êxito low-cost na inteligência artificial. Provavelmente, o filão chinês vai continuar a espantar-nos e a ganhar mercado com valor acrescentado, o que tem um significado simples e profundo: as empresas europeias têm de libertar-se de uma parte substancial dos regulamentos, as nossas economias escleróticas têm de receber doses maciças de inovação.

Temos todos de ser mais expeditos e inventivos – não funcionários pardacentos. Tem de ser esta a nossa obsessão. Ficarmos vidrados no homem laranja é curto.