No seguimento da recessão provocada pela crise de dívida soberana na Europa, tem-se verificado uma recuperação lenta, desde o início de 2013, na maior parte dos países da Zona Euro, crescimento médio do PIB de 1,18% entre 2013 e 2016, e a Comissão Europeia (CE) a prever um crescimento do PIB de 1,7% para 2017 e 1,8% para 2018. Apesar de inicialmente alicerçado no aumento das exportações, este crescimento tem sido, nos anos mais recentes, fortemente suportado pela procura doméstica, particularmente pelo consumo privado.

Contudo, a recuperação do investimento é ainda menor. Os países da Zona Euro verificaram um crescimento médio anual de 3,1% nos últimos 4 anos, inferior à taxa de crescimento média anual de 3,4% no período anterior à crise. Apesar de para 2017 e 2018, a CE estimar que o investimento na Zona Euro seja de 2,9% e 3,4%, o peso do investimento no PIB permanecerá abaixo do verificado na viragem do século e antes da crise de 2007/2008 – 20% face a uma média de 22% entre 2000 e 2015. Adicionalmente, subsistem diferenças significativas em termos regionais e setoriais.

No final de 2016, o investimento nos países menos afetados pela crise (países core, como Alemanha e Áustria) alcançou os níveis do período de pré-crise. Contudo, nos países mais afetados (países do sul da Europa, como Espanha, Itália, Grécia e Portugal) o investimento situa-se em cerca de 27% abaixo dos níveis de investimento no período antecedente à crise de dívida soberana.

Se tal não bastasse, enquanto o nível de investimento público nos países core já se encontrava, no final do passado ano, perto dos níveis anteriores a 2011, este era cerca de 42% inferior nos países periféricos. Tal é o reflexo da forte consolidação orçamental levada a cabo por estes países nos últimos anos, não se prevendo aumentos significativos de investimento em 2017 e 2018, mesmo tendo subjacente as várias linhas de financiamento disponíveis no âmbito dos fundos europeus estruturais e de investimento para o período 2014-2020.

Assim, é o investimento empresarial que mais tem contribuído para a tendência de crescimento, ainda que anémica, do investimento na Zona Euro. Mais uma vez, enquanto que nos países core o nível de investimento empresarial alcançou os níveis pré-crise, nos países do sul da Europa o mesmo estagnou, com o rácio entre o nível de investimento e o PIB em 2016 a ser inferior à média do período 1999-2005.

Desta forma, o contínuo sub-investimento público e empresarial levanta dúvidas quanto à recuperação sustentada e ao potencial de crescimento económico destes países e, consequentemente, da Zona Euro como um todo. No entanto, importa perceber o porquê deste problema de sub-investimento, identificando, adicionalmente, quais as medidas mais eficazes para a sua redução.

O sub-investimento na Zona Euro advém, significativamente, da diminuição do investimento público, nomeadamente em infraestruturas. Tal declínio é, de facto, muito preocupante na medida em que tem implicações sérias na competitividade e no potencial de crescimento a longo prazo. Assim, como a recuperação lenta do investimento empresarial é preocupante, particularmente num contexto de estímulos monetários completamente extraordinários, a forte queda do investimento público em países do sul da Europa é crítico.

O restabelecimento do investimento público para níveis de pré-crise torna-se fundamental para suportar incrementos de produtividade. A utilização de mecanismos como PPPs (desde que corretamente implementadas, já que em Portugal escasseiam os casos de PPPs bem estruturadas), nomeadamente pelos países do sul da Europa, que lhes permita manter o investimento público sem aumentar a dívida pública, irão desempenhar um papel fundamental na promoção de tal investimento.

Quanto ao investimento empresarial, são três os fatores que podem explicar o seu crescimento anémico, a saber: (i) a incerteza política e risco do BCE descontinuar o programa de compra de ativos; (ii) o insípido crescimento da produtividade; e (iii) o insuficiente financiamento bancário.

Em maio deste ano, o BCE reviu em alta, de potencial para médio, o seu indicador composto de stress sistémico dos mercados de dívida soberana, como resultado da persistência da incerteza política em alguns países membros do euro e a um período prolongado de incerteza geopolítica, o que poderá dificultar o crescimento económico e implicar prémios de risco mais elevados. Adicionalmente, o facto de se esperar que o BCE termine, no final de 2017, o seu programa de compra de ativos, aumenta os receios quanto aos impactos no custo do financiamento das empresas e, consequentemente, a um crescimento mais reduzido do seu investimento.

O crescimento da produtividade pode ser potenciado através de mais investigação e desenvolvimento (I&D) e inovação. Na Zona Euro, o rácio entre despesas de I&D e o PIB tem crescido de forma modesta, mantendo-se 1 p.p. abaixo do verificado nos EUA e muito inferior ao rápido crescimento registado na China, Japão e Coreia do Sul.

Um estudo recente do FMI vem demonstrar que a ausência de capacidade nas organizações para absorverem os resultados do processo de I&D apresenta-se como um dos principais entraves à difusão da inovação e ao consequente investimento e crescimento económico na Europa. Assim, a definição e implementação de políticas de investimento na formação e capacitação dos recursos humanos permitirá que as organizações acompanhem as mudanças tecnológicas e reduzam este mismatch de capacidades suportando, simultaneamente, a convergência e a integração europeia.

Por fim, a crise financeira está a ser mais longa e profunda na Zona Euro face ao resto do mundo desenvolvido pelo facto das suas economias se caracterizarem por sistemas financeiros baseados na banca. Esta realidade, acoplada à dificuldade que muitas economias locais apresentam em aceder a financiamento externo, leva a que o financiamento do investimento seja também ele sub-ótimo em momentos, como o atual, em que o sistema bancário se encontra frágil. A banca da Zona Euro apresenta, ainda, um problema de solvabilidade, como resultado dos elevados rácios de crédito em incumprimento que a caracteriza, nomeadamente em países do sul da Europa. Aqui, a criação de veículos de titularização de ativos que permitam aos bancos retirarem do balanço créditos em incumprimento desempenhará um papel fundamental.

Desta forma, torna-se urgente a definição de políticas que permitam às empresas europeias diversificar as suas fontes de financiamento. De ressalvar que o desenvolvimento de um mercado de capitais único que se consubstancie numa alternativa à forte dependência das empresas europeias do setor bancário é um caminho importante, mas não pode ser o único. Tal iniciativa não responderá diretamente às necessidades de PMEs sem a dimensão necessária para acederem a tal mercado. A promoção e flexibilização da atividade de capital de risco, ao permitir agrupar capitais para o financiamento de empresas através de capitais permanentes, torna-se de vital importância para promover o investimento das PMEs.