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O que fazem as pessoas quando encontram uma carteira com dinheiro na rua? Estudo “perdeu” 17 mil carteiras para avaliar honestidade

Os investigadores deste estudo “perderam” mais de 17 mil carteiras em 355 cidades em 40 países com diferente conteúdos: sem dinheiro, com 12 euros ou com 83 euros. Quais as suas conclusões? E qual a classificação dos portugueses face a outras 39 nações?
22 Junho 2019, 12h20

Qual o grau de honestidade das pessoas quando encontram uma carteira na rua com dinheiro? Devolvem a carteira tal e qual a encontraram? Ou retiram o dinheiro antes de devolverem ou a deitarem fora novamente? E se a carteira tiver muito dinheiro?

Estas foram algumas das perguntas que um estudo realizado em 355 cidades em 40 países entre 2013 e 2016 tentou responder com os investigadores a perderem propositadamente 17,300 mil carteiras, segundo um estudo publicado esta semana pela revista Science.

Cada carteira continha uma chave, uma lista de compra e três cartões de negócios do proprietário, com os seus contactos, sempre adaptados à cidade em questão. As carteiras ou continham o equivalente a 13,45 dólares (quase 12 euros), ou nenhum dinheiro.

Em vários locais do mundo, os investigadores perderam carteiras em hotéis, bancos e correios e ficaram à espera de serem contactados no espaço de 100 dias para que os seus pertences fossem devolvidos. A carteira ‘perdida’ era encontrada’ nestes locais por um dos investigadores que ia entregar a carteira ao balcão.

Resultado? Cerca de 40% das carteiras sem dinheiro foram devolvidas, enquanto 51% das carteiras com dinheiro foram devolvidas. “Assumimos erradamente que os seres humanos são egoístas. Na verdade, a sua auto-imagem como uma pessoa honesta é mais importante para eles do que um ganho monetário de curto prazo”, disse Alain Cohn, um dos autores do estudo e professor de economia na universidade norte-americana do Michigan, citado pelo Telegraph.

Em 38 dos 40 países, as carteiras com dinheiro foram devolvidas em maior percentagem face às carteiras sem dinheiro, “o que suporta a ideia de que as pessoas não são puramente egoístas”. As únicas exceções foram o Perú e o México.

Uma das razões para a elevada devolução de carteiras é o fenómeno de “aversão ao roubo”, isto é, medo de uma pessoa se ver a si própria como um ladrão, apontam os autores. “Onde o egoísmo prevê uma menor probabilidade de as carteiras com dinheiro serem devolvidas, o altruísmo e o desejo de manter uma auto-imagem positiva prevê o padrão oposto”, segundo o estudo.

Várias carteiras também foram “perdidas” com uma quantidade maior de dinheiro: 94,15 dólares (quase 83 euros). Surpreendentemente, quanto mais elevada a quantidade de dinheiro, maior a probabilidade da carteira ser devolvida.

“O efeito não contradiz apenas o pensamento económico racional, mas é bastante surpreendente. Tanto os não-peritos como os economistas previram” exatamente o oposto em inquéritos realizados pelos autores, segundo o estudo.

A questão da chave na carteira também foi importante no estudo, “pois uma chave é valiosa para o dono da carteira, não para quem a encontra”. Nos Estados Unidos, Reino Unido e Polónia, os autores decidiram incluir carteiras que continham dinheiro, mas que não continham chave, de forma a avaliar a “contribuição específica do altruísmo na honestidade”.

Resultado? Uma chave na carteira aumenta a probabilidade da carteira ser devolvida. “Os resultados sustêm a ideia de que as pessoas preocupam-se também com os outros assim como se preocupam em serem honestos”.

Os países com melhor classificação foram a Suíça, Noruega, Holanda, Dinamarca, Suécia e Polónia.

Portugal ficou na 20ª posição, exatamente a meio da tabela, seguido do Estados Unidos e do Reino Unido.

Em Portugal, cerca de 40% das carteiras sem dinheiro encontradas foram devolvidas. Já 45% das carteiras com dinheiro foram devolvidas.

Os países com a pior classificação foram a China, Marrocos, Perú, Cazaquistão, Quénia e Malásia.

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