Qual o grau de honestidade das pessoas quando encontram uma carteira na rua com dinheiro? Devolvem a carteira tal e qual a encontraram? Ou retiram o dinheiro antes de devolverem ou a deitarem fora novamente? E se a carteira tiver muito dinheiro?
Estas foram algumas das perguntas que um estudo realizado em 355 cidades em 40 países entre 2013 e 2016 tentou responder com os investigadores a perderem propositadamente 17,300 mil carteiras, segundo um estudo publicado esta semana pela revista Science.
Cada carteira continha uma chave, uma lista de compra e três cartões de negócios do proprietário, com os seus contactos, sempre adaptados à cidade em questão. As carteiras ou continham o equivalente a 13,45 dólares (quase 12 euros), ou nenhum dinheiro.
Em vários locais do mundo, os investigadores perderam carteiras em hotéis, bancos e correios e ficaram à espera de serem contactados no espaço de 100 dias para que os seus pertences fossem devolvidos. A carteira ‘perdida’ era encontrada’ nestes locais por um dos investigadores que ia entregar a carteira ao balcão.
Resultado? Cerca de 40% das carteiras sem dinheiro foram devolvidas, enquanto 51% das carteiras com dinheiro foram devolvidas. “Assumimos erradamente que os seres humanos são egoístas. Na verdade, a sua auto-imagem como uma pessoa honesta é mais importante para eles do que um ganho monetário de curto prazo”, disse Alain Cohn, um dos autores do estudo e professor de economia na universidade norte-americana do Michigan, citado pelo Telegraph.
Em 38 dos 40 países, as carteiras com dinheiro foram devolvidas em maior percentagem face às carteiras sem dinheiro, “o que suporta a ideia de que as pessoas não são puramente egoístas”. As únicas exceções foram o Perú e o México.
Uma das razões para a elevada devolução de carteiras é o fenómeno de “aversão ao roubo”, isto é, medo de uma pessoa se ver a si própria como um ladrão, apontam os autores. “Onde o egoísmo prevê uma menor probabilidade de as carteiras com dinheiro serem devolvidas, o altruísmo e o desejo de manter uma auto-imagem positiva prevê o padrão oposto”, segundo o estudo.
Várias carteiras também foram “perdidas” com uma quantidade maior de dinheiro: 94,15 dólares (quase 83 euros). Surpreendentemente, quanto mais elevada a quantidade de dinheiro, maior a probabilidade da carteira ser devolvida.
“O efeito não contradiz apenas o pensamento económico racional, mas é bastante surpreendente. Tanto os não-peritos como os economistas previram” exatamente o oposto em inquéritos realizados pelos autores, segundo o estudo.
A questão da chave na carteira também foi importante no estudo, “pois uma chave é valiosa para o dono da carteira, não para quem a encontra”. Nos Estados Unidos, Reino Unido e Polónia, os autores decidiram incluir carteiras que continham dinheiro, mas que não continham chave, de forma a avaliar a “contribuição específica do altruísmo na honestidade”.
Resultado? Uma chave na carteira aumenta a probabilidade da carteira ser devolvida. “Os resultados sustêm a ideia de que as pessoas preocupam-se também com os outros assim como se preocupam em serem honestos”.
Os países com melhor classificação foram a Suíça, Noruega, Holanda, Dinamarca, Suécia e Polónia.
Portugal ficou na 20ª posição, exatamente a meio da tabela, seguido do Estados Unidos e do Reino Unido.
Em Portugal, cerca de 40% das carteiras sem dinheiro encontradas foram devolvidas. Já 45% das carteiras com dinheiro foram devolvidas.
Os países com a pior classificação foram a China, Marrocos, Perú, Cazaquistão, Quénia e Malásia.
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