O boletim económico de dezembro do Banco de Portugal (BdP) estima que a taxa de crescimento do produto em 2022 deverá ficar nos 6,8%. Se olharmos para estimativas provenientes de diferentes fontes, a economia portuguesa irá desacelerar no ano de 2023. Em concreto, para este ano, o BdP prevê uma taxa de crescimento do PIB de 1,5%, o Governo de 1,3% e o Conselho das Finanças Públicas de 1,2%, enquanto diversos organismos internacionais, preveem taxas mais modestas. A Comissão Europeia, a OCDE e o FMI, estimam que o produto português vá crescer, 0,7%, 1% e 0,7%, respetivamente.
Os efeitos da recuperação económica pós-covid estão esgotados, o turismo recuperou para níveis já superiores aos pré-pandémicos, o consumo adiado foi realizado e a taxa de poupança desceu, alimentando este consumo, num contexto de redução de poder de compra.
O forte aumento da taxa de inflação, consolidado pela guerra na Ucrânia, contribuiu para a redução do poder de compra. O consumo só não foi penalizado, porque a poupança cresceu com a pandemia e permitiu acomodar o aumento dos preços em 2022, mantendo o crescimento do consumo privado em 5,9%, segundo estimativa do BdP.
Para 2023 a almofada da poupança já não existe e, com uma taxa de inflação a manter-se elevada, esta componente da despesa, prevê ainda o BdP, crescerá apenas 0,2%, com os resultados negativos que isso implica, em particular, para a solidez das empresas que produzem para o mercado interno. Acresce que, os aumentos sucessivos das taxas de juro, resultantes da adoção de uma política monetária restritiva em 2022 e 2023, criam problemas ao pagamento das prestações dos empréstimos à habitação das famílias e agravam os custos de financiamento das empresas.
Quanto ao investimento, ele cresceu de forma anémica em 2022, e, apesar dos fundos do PRR, a estimativa é de que dificilmente se constituirá como o motor do crescimento económico em 2023.
Restam-nos as exportações que evoluíram bem em 2022 (+18%), não obstante o abrandamento da economia internacional, tendo alcançado o marco importante de cerca de 50% do PIB português. Mais do que a exportação de bens, foi a exportação de serviços, em particular o crescimento do turismo, que permitiu alcançar este patamar.
Este é o cenário que herdamos para 2023 e que nos permite ter a expetativa de que o nosso crescimento em 2023, previsivelmente de pouco mais de 1%, será, muito provavelmente, sustentado pela dinâmica da evolução das exportações, se as circunstâncias presentes na economia europeia não se degradarem.
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