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O sonho da primeira casa

A compra de casa para as gerações mais novas tornou-se num problema complexo com múltiplas dificuldades e obstáculos.
23 Outubro 2019, 07h15

Eu faço parte do grupo de jovens que já está quase a atingir o limite daquilo que se considera ser jovem na sociedade actual. Recordando os nossos sonhos de infância a nossa geração sente-se falhada! Quase todos nós, nos tempos de escola, imaginamos que a nossa vida, por esta altura, já seria bem diferente. Já estaríamos a viver sozinhos, já teríamos a nossa primeira casa, já teríamos o carro pago, faríamos outro tipo de férias. Para quase uma geração inteira esses sonhos tornaram-se em miragens, como consequência das crises económicas mundiais recentes que mudaram fortemente o funcionamento da sociedade e da economia. Mas e então que futuro esperar para nós e para uma sociedade que tem os jovens independentes cada vez mais tarde, que têm os primeiros filhos cada vez mais tarde e logo menos filhos e que tem as suas gerações mais qualificadas de sempre mal aproveitadas e motivadas?

A compra de casa para as gerações mais novas tornou-se num problema complexo com múltiplas dificuldades e obstáculos. Para muitos a instabilidade laboral, mesmo que por opção pessoal, visto que o futuro dar-nos-á uma cada vez maior percentagem de trabalhadores por conta própria dadas as características, ambições e preferências das novas gerações, torna-se num factor impeditivo de acesso ao crédito. A nossa sociedade terá que reflectir, com urgência, sobre como é que o sistema bancário se irá adaptar a esta nova realidade cultural, mas até lá a minha geração e talvez ainda a próxima sofreremos com o atraso nessa adaptação.

Para outros, a necessidade, recentemente imposta pelo Banco de Portugal, de que os jovens casais tenham um valor de entrada de, pelo menos, 10% do valor do imóvel para acederem ao financiamento atrasa, por muitos anos, a concretização desse sonho, visto que com o actual poder de compra das famílias Portuguesas poupar um valor dessa ordem de grandeza pode levar décadas.

Para todos, porém, a evolução dos preços dos imóveis tanto no mercado da compra e venda como do arrendamento, em comparação com a evolução do poder de compra, torna o desejo de independência uma completa miragem. Apesar de na Madeira ainda não se viver o nível de desequilíbrio de mercado que já se vive nas duas maiores cidades Portuguesas, a verdade é que a evolução deve começar a preocupar-nos agora, enquanto ainda há tempo para encontrar medidas que permitam nunca chegarmos a situações tão dramáticas como as vividas nessas duas cidades.

O debate sobre as soluções para resolver os desequilíbrios do mercado imobiliário tornou-se num dos grandes debates ideológicos esquerda-direita dos nossos tempos! Como sempre a solução da esquerda é restringir liberdades! É proibir os estrangeiros de comprarem casa cá em Portugal, é de proibir que uma família possa ter uma segunda habitação, para férias por exemplo. A solução, historicamente, é sempre a mesma! Proibir, proibir e voltar a proibir! É neste cenário que cada vez mais a direita tem que ser o garante das liberdades! Afirmar as soluções de mercado que promovam o aumento da oferta, em detrimento de restringir a procura. Soluções que promovam o aumento da construção de habitações, que requalifiquem imóveis do Estado degradados para habitação, que cooperem com privados para garantir o máximo potencial dessa requalificação de imóveis. A direita, hoje e sempre, deve ser um garante das liberdades económicas, mas também das liberdades individuais de cada um de nós! Em breve espero explorar também a fundo essa necessidade da direita se afirmar também nas liberdades individuais e sociais!

O autor do texto escreve segundo a antiga ortografia da Língua Portuguesa.

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