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O trabalho e a saúde mental 

Para a prevenção e combate da doença mental no trabalho é essencial a existência de uma liderança não só atenta e compreensiva, mas também empenhada em resoluções, em estratégias de prevenção e de recuperação da saúde dos seus funcionários.
1 Fevereiro 2021, 07h15

A preocupação com a saúde no trabalho é relativamente recente. E não está ainda ao alcance de todos os trabalhadores de forma que lhes seja assegurado bem-estar, qualidade de vida e saúde física, social e mental nos seus locais de trabalho. Não se compreende a falta de aposta nesta área da saúde por parte de muitas empresas e organismos laborais (inclusive estatais), quando está comprovado que a saúde de um trabalhador se reflecte na sua produtividade e consequentemente no desenvolvimento económico colectivo.

Há pouco tempo, surpreendeu-me uma notícia sobre um grupo bracarense “Bernardo da Costa”, que emprega 194 pessoas, e que, entre outros incentivos, inclusive monetários, criou um “departamento da felicidade” para os seus funcionários que incluía benefícios como um seguro de saúde, para atrair quadros qualificados e “altamente motivados”. Sem saber mais do que foi noticiado, adivinho naqueles trabalhadores o que qualquer um deveria beneficiar: saúde pessoal e saúde ambiental (sim, o ambiente de trabalho é dos maiores causadores da perda de saúde mental).

A saúde ocupacional está reconhecida não só por uma vasta comunidade científica como pela própria OMS e pela OIT, tendo mesmo muita da nossa legislação laboral a afirmação da responsabilidade do empregador ou do superior hierárquico (chefias, direções…) na promoção das políticas de saúde nos locais de trabalho. Mas a legislação nem sempre se materializa na prática, e são ainda inúmeras as queixas de trabalhadores para a falta de compensações, mesmo em situações concretas como acidentes de trabalho que muitas entidades tendem a irrelevar ou a desresponsabilizar-se. O mesmo com as doenças profissionais, nem sempre fáceis de provar em termos de causa-efeito, e nestas inserem-se as doenças do foro mental como transtornos de ansiedade, depressão e burnout que constituem, ainda de acordo com a OMS, uma perda de triliões de euros na economia global.

Um outro aspecto a considerar é que ainda subsiste não só a falta de cultura para a saúde e segurança dos trabalhadores por parte de muitas entidades patronais (públicas ou privadas) mas também um tabu em torno da saúde mental, para mais em tempos em que o stress está presente em tantas organizações.  

Uma grande parte do nosso tempo, da nossa rotina diária, é vivenciada nos locais de emprego sendo, portanto, compreensível que uma larga fatia do nosso bem-estar (e consequentemente da nossa saúde) advenha da nossa experiência e vivência laboral, pelo que daqui se deduz a importância da saúde mental no trabalho por forma, inclusive, a evitar a rotatividade que tende a comprometer a produtividade e a qualidade dos serviços prestados pelos sectores laborais. Para a prevenção e combate da doença mental no trabalho é essencial a existência de uma liderança não só atenta e compreensiva, mas também empenhada em resoluções, em estratégias de prevenção e de recuperação da saúde dos seus funcionários. Quantas empresas, quantos organismos públicos laborais têm um programa de saúde mental com propósitos e instrumentos objectivos, com controlo dos riscos de stress, para reduzir o absentismo ou a debandada das equipas de trabalho, com agravo dos custos inerentes? Ou para evitar o esgotamento mental e emocional com ligação directa ao trabalho e tantas vezes às respectivas hierarquias?

O trabalho é um fator decisivo na jornada individual e colectiva da saúde mental para o bem (sim, o trabalho é bom a saúde mental) mas infelizmente também pode promover o desenvolvimento de ambientes negativos que conduzem a problemas de descompensações mentais ou psicossociais que “podem conduzir os trabalhadores à morte”, segundo o especialista em trabalho doutor João Areosa, no seu artigo “A saúde mental dos trabalhadores “,afirmando mesmo que este é, “sem dúvida um dos grandes dramas do mundo do trabalho contemporâneo”.

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