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Obituário: Pedro Romano (1985/2017)

A profundidade da sua análise, juntamente com a fineza, a lucidez e a seriedade dos seus raciocínios, faziam do Pedro um dos mais brilhantes e promissores analistas económicos em Portugal.
13 Outubro 2017, 11h57

Uma pessoa que admiro disse-me em tempos que a melhor homenagem que lhe poderiam prestar após a morte seria dizerem que “passou fazendo o bem”. Esta frase poderia ser utilizada para descrever o nosso amigo Pedro Romano, ex-jornalista, consultor e analista económico tragicamente desaparecido na semana passada, a poucos dias de completar 32 anos de idade.

Mas muito mais poderia ser dito sobre o Pedro. Para começar, que era intelectualmente brilhante. Quem o conhecia apercebia-se quase instantaneamente de que estava a lidar com alguém invulgar. A profundidade da sua análise, juntamente com a fineza, a lucidez e a seriedade dos seus raciocínios, faziam do Pedro um dos mais brilhantes e promissores analistas económicos em Portugal. Era, além disso, um nerd com graça, com um sentido de humor fora do comum e frequentemente incompreendido, que utilizava talvez como mecanismo de proteção ou para melhor se integrar. Apesar disso, o Pedro procurava não dar excessivamente nas vistas. Só quem o conhecia sabia a joia que ali estava. Era como um tesouro escondido à vista de todos, devido a uma aparente falta de interesse por algumas coisas que a maioria das pessoas ambiciona.

A sua formação académica de base não foi na área económica, pelo que era em larga medida um autodidacta. Este facto, que confundia alguns dos seus leitores, tê-lo-á ajudado a explicar de forma simples os temas complexos que abordava. Talento esse que não era apenas com a palavra escrita e era visível, por exemplo, quando o Pedro usava o Microsoft Paint (em vez do Excel) para criar gráficos que transformavam matérias complicadas em coisas simples.

Nascido em Braga a 15 de outubro de 1985, Pedro Romano era licenciado e mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho. Ingressou no extinto “Diário Económico” em 2008, tendo passado, dois anos depois, para o “Jornal de Negócios”. Ao longo dos quatro anos que passou nestes jornais, especializou-se em macroeconomia, destacando-se rapidamente como um jovem jornalista promissor.

Em 2012, desafiado por Adolfo Mesquita Nunes e João Almeida, tornou-se assessor económico do grupo parlamentar do CDS, tendo acompanhado o período da troika e das comissões de inquérito aos grandes casos da banca. Passou depois pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, entre outras entidades. Atualmente trabalhava como consultor e, embora estivesse afastado do jornalismo, era colaborador permanente do Jornal Económico, assinando semanalmente a coluna “Radar Económico”. Mantinha, além disso, o blogue “Desvio Colossal”, bem conhecido dos leitores interessados em temas de macroenomia.

O seu funeral, que teve lugar no passado fim de semana, contou com a participação de centenas de pessoas das mais diferentes proveniências. A igreja de São Vítor, em Braga, foi pequena para acolher os amigos de infância, da universidade e dos jornais, antigos professores, companheiros das maratonas e do futebol, que quiseram prestar a última homenagem a um dos melhores da sua geração. É notável como alguém tão novo tocou de forma positiva um tão grande número de pessoas, em contextos tão distintos.

Este domingo, dia do seu aniversário, terá lugar uma missa por intenção do Pedro, na Basílica da Estrela, em Lisboa, às 10h00. O Jornal Económico apresenta as mais sinceras condolências à família enlutada. A sua falta será sentida por todos nós.

 

 

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