Os governos precisam fazer mais para apoiar as famílias de classe média que lutam para manter seu peso económico e o seu estilo de vida, num quadro em que as receitas das famílias daquele conjunto estagnaram e não acompanham os crescentes custos da habitação e da educação, segundo um relatório da responsabilidade da OCDE.
A pressão é clara: a classe média diminuiu na maioria dos países da OCDE, já que se tornou mais difícil para as gerações mais jovens chegarem a essa posição, definida como os que ganham entre 75% e 200% da receita média nacional. Enquanto quase 70% dos ‘baby boomers’ faziam parte de famílias de classe média quando chegavam aos 20 anos, apenas 60% dos ‘millennials’ conseguem atingir o mesmo patamar.
No mesmo sentido, a influência económica da classe média também caiu drasticamente: na OCDE, com exceção de alguns países, os rendimentos médios são hoje pouco mais altos que há 10 anos, aumentando apenas 0,3% ao ano, um terço a menos que o rendimento médio dos 10% mais ricos.
“Hoje, a classe média parece cada vez mais um barco em águas revoltas”, disse o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría, a quando do lançando do relatório, em Nova Iorque, onde estava juntamente com Luis Felipe Lopéz-Calva, secretário-geral Adjunto para a América Latina e Caribe do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
“Os governos devem ouvir as preocupações das pessoas e proteger e promover os padrões de vida da classe média. Isso ajudará a impulsionar o crescimento económico inclusivo e sustentável e a criar um tecido social mais coeso e estável”, disse ainda, citado por um comunicado oficial.
O custo de um estilo de vida de classe média aumentou mais rapidamente que a inflação. A habitação, por exemplo, compõe o item de maior gasto individual para famílias de rendimentos médios: cerca de um 33%, em comparação com os 25% dos anos 90. Os preços das casas têm crescido três vezes mais rápido que o rendimento média das famílias nas últimas duas décadas.
Segundo o estudo, mais de uma em cada cinco famílias (20%) de rendimento médio gastam mais do que ganham e o super-endividamento afeta esse segmento bem mais que as famílias de baixo e de alto rendimento. Além disso, as perspetivas do mercado de trabalho são cada vez mais incertas: um em cada seis trabalhadores de segmento médio está em empregos com alto risco de automação, em comparação com um em cada cinco trabalhadores de rendimentos baixos e um em cada dez de rendimentos altos.
Para ajudar a classe média, é necessário um plano de ação abrangente, de acordo com a OCDE: os governos devem melhorar o acesso a serviços públicos de qualidade e garantir uma melhor cobertura da proteção social. Para resolver os problemas de custo de vida, as políticas devem incentivar o fornecimento de casas populares. Subvenções direcionadas, apoio financeiro a empréstimos e redução de impostos para compradores de imóveis ajudariam as famílias de rendimento médio. Em países com níveis alarmantes de dívidas relacionadas com a habitação, o alívio da hipoteca ajudaria as famílias sobrecarregadas a retomar um caminho de alívio.
Com empregos temporários ou instáveis (com salários mais baixos e pouca segurança) a substituir cada vez mais os empregos tradicionais da classe média, é necessário mais investimento nos sistemas de ensino e formação vocacional. A cobertura dos seguros sociais e da negociação coletiva deve ser aplicada a trabalhadores com empregados temporários, em regime de meio período ou trabalhadores por conta própria, aconselha ainda a OCDE.
Finalmente, para promover a equidade do sistema sócio-económico, a OCDE afirma que as políticas devem considerar a transferência da carga tributária (que deve ser mais progressiva) da receita do trabalho para a receita de capital, os ganhos de capital, a propriedade e as heranças.
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