Olhando para o ano que agora findou, fica, mais uma vez, a prova da extraordinária capacidade das empresas portuguesas para enfrentar e ultrapassar a adversidade.
De facto, ao longo de 2024, foram muitos os fatores que marcaram um contexto particularmente difícil para a atividade económica, destacando-se a conjuntura externa desfavorável, que afetou os principais mercados de destino das exportações, e o nível elevado das taxas de juro, que só a partir de junho começaram a descer dos máximos históricos que atingiram em 2023.
A atividade empresarial foi pressionada pela subida dos encargos financeiros e por um agravamento dos custos laborais unitários, resultantes de aumentos salariais significativamente acima dos ganhos de produtividade, num contexto de escassez de mão de obra que afeta a generalidade dos setores.
Neste enquadramento, o crescimento económico ficou muito dependente do contributo do consumo e, de acordo com as últimas projeções do Banco de Portugal, terá desacelerado para 1,7% no cômputo do ano.
Mesmo assim, e ao contrário de outras economias europeias, escapámos à recessão e tudo indica que a fase mais baixa do ciclo já terá sido ultrapassada. Para o quarto trimestre estima-se já um maior crescimento em cadeia do PIB, que se deverá prolongar em 2025.
A resiliência do mercado de trabalho continuou a possibilitar um nível de desemprego relativamente baixo, com a criação líquida de emprego a absorver acréscimos da população ativa decorrentes de saldos migratórios positivos.
Na esfera política, o ano também não foi fácil, com o resultado das eleições de 10 de março a determinar um quadro parlamentar mais fragmentado e suscetível de criar dificuldades à estabilidade governativa.
Há que reconhecer o sentido de responsabilidade dos partidos políticos moderados para preservar essa estabilidade, bem como dos parceiros sociais, que contribuíram para a estabilidade social com o Acordo Tripartido que subscreveram em outubro.
O diálogo entre Governo e Oposição, embora sem um sucesso pleno, foi suficiente para lograr a viabilização do Orçamento do Estado. Um Orçamento que não terá sido o desejado, face ao imperativo de uma profunda transformação económica, mas foi o possível, incorporando muitas das medidas acordadas em concertação social.
2024 foi, sem dúvida, um ano difícil, mas que, apesar da envolvente internacional profundamente hostil em que continuamos a viver, nos deixa sinais de esperança para 2025: sinais de que começamos a fazer caminho na direção certa.