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“Onde anda o Presidente da República?” Socialistas “atónitos” com silêncio de Marcelo sobre caso Montenegro

Eurico Brilhante Dias, ex-líder da bancada do PS, diz ser “estranhíssimo” o silêncio de Marcelo Rebelo de Sousa sobre a polémica a envolver o primeiro-ministro. João Galamba, ex-ministro das Infraestruturas, afirma que se o Presidente “tivesse um pingo de vergonha na cara, diria algo sobre o que se passa”.
Marcelo
António Pedro Santos/Lusa
3 Março 2025, 13h55

O silêncio do Presidente da República sobre a polémica a envolver o primeiro-ministro está a deixar os socialistas “atónitos” e começam a surgir vozes a criticar a atuação de Marcelo Rebelo de Sousa, que contrasta com a que teve num passado recente durante o último governo do PS.

“Onde é que anda o senhor Presidente da República? O país está à beira de uma crise política, tem um primeiro-ministro claramente inferiorizado, e não ouvimos o Presidente da República, é estranhíssimo”, disse Eurico Brilhante Dias, ex-líder parlamentar em declarações à TSF.

No entender do socialista, numa altura em que “as instituições não estão a funcionar” e em que “temos uma crise de primeiro-ministro”, deveria o Chefe de Estado ter chamado Luís Montenegro a Belém e ter também falado com o líder da oposição para “garantir os passos seguintes” na sequência da polémica avença mensal paga pela Solverde à empresa criada pelo primeiro-ministro.

Brilhante Dias defende que “ainda estamos longe” de um cenário de dissolução do Parlamento e de eleições antecipadas – “há outro passos pelo caminho” – , mas lembra que o Presidente da República “foi particularmente exigente com alguns ministros do PS” e que “praticamente quis decretar a sua exoneração a partir de páginas de jornal”, recorda, considerando que Marcelo tem “dois pesos e duas medidas” na forma como lida com o atual Governo e o anterior.

Para o antigo líder da bancada dos socialistas, esta crise “só se seria resolvida” com dois caminhos: a demissão do primeiro-ministro – “parece-me que estamos a caminhar para esse quadro” – ou através de uma moção de confiança ao Governo, que Luís Montenegro ameaçou apresentar na declaração que fez ao país no sábado à noite, mas que, entretanto, poderá não vir a ser colocada depois de o PCP ter avançado com uma moção de censura (que será chumbada, já que o PS não a votará favoravelmente).

Galamba ao ataque

Quem também assinalou o silêncio do Presidente foi João Galamba, ministro que protagonizou uma novela entre Belém e São Bento, quando Marcelo pediu a demissão do então responsável pela pasta das Infraestruturas em 2023.

“Uma das coisas mais absurdas dos últimos anos foi ver o atual Presidente a dar lições de sentido de Estado e responsabilidade a terceiros. Se Marcelo tivesse um pingo de vergonha na cara (não tem nenhuma, nem sabe o que tal possa ser), diria algo sobre o que se passa”, comentou Galamba na rede social X (antigo Twitter).

Numa publicação anterior, recorreu à ironia: “Marcelo Rebelo de Sousa esta num churrasco com amigos e não tem disponibilidade para comentar o que se tem passado. Ser um presidente sério dá muito trabalho e é cansativo.”

Ascenso Simões, antigo governante e ex-dirigente do PS, também usa as redes sociais para perguntar pelo paradeiro de Marcelo Rebelo de Sousa.

Depois de o Expresso ter noticiado que a empresa familiar de Montenegro recebia uma avença mensal de 4.500 euros da Solverde, o primeiro-ministro decidiu que deveria fazer uma avaliação profunda das suas condições políticas e pessoais, convocou um Conselho de Ministros extraordinário e uma declaração ao país às 20h0o de sábado. Marcelo não terá sido previamente informado desta comunicação e não terá atendido o telefonema que Montenegro lhe fez depois meia hora depois de se ter dirigido à nação, noticiou o Observador.

Na comunicação feita com todos os ministros na sua retaguarda, Montenegro revelou que “doravante” a Spinumviva passa a ser totalmente detida e gerida pelos filhos e que a sede da empresa deixa de ser na sua casa. No âmbito político, disse não querer ser primeiro-ministro a “todo o custo”, devolveu a palavra aos partidos e ameaçou com uma moção de confiança. Uma ameaça que pode ter tido vida curta, já que o PCP se antecipou com uma moção de censura.

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