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OE2024 vai contra a contenção da inflação defendida pelo BCE, adverte XTB

Analistas da XTB admitem que o OE24 ‘financia’ os bolsos dos portugueses. Mas, no limite, isso induz um aumento do consumo, que é tudo o que o Banco Central Europeu não quer, uma vez que vai contra as medidas de contenção da inflação.
12 Outubro 2023, 08h59

“Numa fase em que a incerteza continua a pairar sobre as economias, com a inflação a dar sinais de resistência e ao mesmo tempo que a atividade económica entra numa fase mais sensível, muitas são as dúvidas sobre os possíveis impactos de uma mudança brusca na economia e o seu impacto nos países desenvolvidos mais vulneráveis, como o caso português”.

Numa análise da consultora XTB – da autoria de Henrique Tomé e Vítor Madeira – a vulnerabilidade da economia portuguesa não desapareceu, apesar do facto de ter conseguido crescer mais do que a média europeia e conseguir baixar a taxa de inflação sem penalizar muito o crescimento económico coloca o país no centro das atenções.

“Mas será que estamos imunes ao pior cenário?”, questionam os analistas. Embora o crescimento do PIB português afaste qualquer cenário de crise a curto prazo, “a verdade é que a atividade económica tem estagnado no segundo e terceiro trimestres e deverá manter um crescimento fraco até ao final do ano”. O ambiente de taxas de juro elevadas está a fazer com que as famílias estejam constantemente a perder poder de compra, ao mesmo tempo que são afetadas com os níveis de inflação elevados em determinados bens e serviços.

Como resultado, o Orçamento do Estado “visa dar um estímulo ao consumo das famílias e atenuar o impacto da inflação, ou seja reduzir a perda de poder de compra que foi acontecendo ao longo destes últimos meses, principalmente para as famílias mais endividadas”.

Os analistas salientam que o aumento do salário mínimo para 820€ “poderá reduzir a competitividade das nossas empresas, já que obriga a um esforço adicional nos custos com salários”. A segunda medida mais impactante é a redução do IRS até ao 5º escalão (famílias com rendimentos até 27.146€). A terceira medida que impulsiona o consumo será a subida de 6,2% das pensões.

Em relação às projeções económicas para o próximo ano, “o crescimento real do PIB para os próximos anos é francamente modesto, sobretudo as projeções para o próximo ano, que poderão ser marcadas por fortes abrandamentos económicos em todas as regiões do globo. No entanto, este forte abrandamento deverá contribuir para que a taxa de inflação se aproxime dos níveis desejados e as perspetivas sobre o mercado de trabalho poderão variar pouco”.

Adicionalmente, “quando olhamos para a balança comercial externa portuguesa vemos que deverá haver uma grande diferença entre os resultados de 2023 e 2024, mais uma vez evidenciando o abrandamento económico que deverá marcar os próximos tempos”.

Salientando que o saldo comercial é particularmente importante para a economia portuguesa, não só porque tem um grande peso no PIB como também poderá levantar algumas dúvidas sobre a qualidade da dívida. Níveis elevados de dívida são sustentados pelo crescimento económico, porém, “as fases de abrandamento económico podem levantar questões sobre o excesso de endividamento de uma economia”. Não obstante, Portugal tem feito um trabalho importante ao conseguir reduzir os níveis de endividamento.

A juntar a tudo isto, a contribuição do turismo para o PIB nacional tem aumentado ao longo dos anos. Em 2022, o consumo turístico representou 15,8% do PIB “e espera-se que este ano a contribuição aumente para mais de um quinto (21,1%). Ainda assim, mais uma vez, o abrandamento da atividade económica global poderá também afetar este setor de relevante crescimento”.

Em virtude de todos os factos analisados, “conseguimos ter uma ideia macro sobre o estado atual da economia portuguesa e quais poderão ser os próximos desafios”. “Ao analisarmos as variações nos principais indicadores económicos que medem a atividade económica – o emprego e a taxa de inflação – conseguimos concluir que o cenário de recessão, pelo menos para já, é algo pouco provável de acontecer, mas ao mesmo tempo é muito provável assistirmos a uma deterioração geral de todos os indicadores que deverão continuar a ser revistos em baixa tendo em conta as atuais circunstâncias económicas”.

E se é certo que as medidas do governo “visam aumentar o rendimento disponível das famílias”, por outro lado “pecam por abrangerem novamente uma grande parte da população, uma vez que deveriam ser destinadas apenas às classes sociais mais desfavorecidas. Assim sendo, este tipo de medidas vai contra o compromisso do BCE de baixar a inflação, uma vez que não visa diminuir o poder de compra mas sim aumentá-lo, o que torna mais difícil o combate da mesma”.

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