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Os desafios para a economia da Madeira em 2021

Para a região se tornar um player significativo em termos internacionais, há ainda um longo caminho a percorrer, que consistirá necessariamente por alcançar 2 grandes objetivos: em primeiro lugar, fazer o trabalho de casa que todos os grandes players internacionais já fizeram, que é a escolarização e o ensino superior de excelência para todos; em segundo lugar, manter o Centro Internacional de Negócios da Madeira como um centro internacional de negócios, repito, internacional (e, portanto, não um mero centro regional de negócios).
18 Janeiro 2021, 07h15

Com base em dados de 2019, a população Madeirense era de 254 254 habitantes (hab) e a sua atividade económica medida pelo PIB teve um valor de 5 100 milhões de Euros. O PIB per capita foi, portanto, de 20 059€/hab, 3% inferior aos 20 740€/hab do conjunto do país e 36% aos 31 160€/hab da União Europeia a 27, e que corresponderia em termos de ordenação mundial de PIB de países pelo FMI entre o 38.º lugar (Arábia Saudita) e o 39.º (Grécia).

Num contexto de análise da economia regional, eu não valorizo muito as estatísticas disponíveis para o comércio externo, uma vez que a grande maioria do comércio da região é com o restante do território nacional. Ainda assim, vale a pena verificar que em 2019 registaram-se em exportações 272,1 milhões de euros e em importações 158,1 milhões de euros, o que corresponderia a um grau de abertura de apenas 9% do PIB regional. No entanto, a grande
maioria do comércio, que é interno a Portugal, faz com que possamos classificar a economia regional como aberta. Esta análise ao comércio da Região (RAM) com o resto do mundo permite-nos identificar um primeiro grande desafio da economia Madeirense: aumento da competitividade internacional. Para a RAM se tornar um player significativo em termos internacionais, há ainda um longo caminho a percorrer, que consistirá necessariamente por
alcançar 2 grandes objetivos: em primeiro lugar, fazer o trabalho de casa que todos os grandes players internacionais já fizeram, que é a escolarização e o ensino superior de excelência para todos; em segundo lugar, manter o Centro Internacional de Negócios da Madeira como um centro internacional de negócios, repito, internacional (e, portanto, não um mero centro regional de negócios).

A taxa de pobreza monetária, resultante duma fasquia situada nos 501€/mês e baseada no Inquérito às Condições de Vida e Rendimento realizada em 2019 sobre os rendimentos de 2018, é de 27,8% na RAM, que é a 2.ª mais alta das regiões Portuguesas, apenas atrás dos Açores. Apesar das respostas ao inquérito referido serem reconhecidamente subvalorizadas, ainda assim é evidente qual é o segundo grande desafio da economia Madeirense: luta contra a  pobreza. O facto de ser uma pobreza muitas vezes escondida e envergonhada não a torna menos grave. É uma pobreza que se torna um pouco mais visível para quem presencia a distribuição de alimentos pelos centros e fundos de apoio, paróquias e outras entidades. Esta luta deve ser estruturada em várias fases: uma primeira fase emergencial, e uma segunda fase de capacitação para a autonomia financeira. A fase emergencial, necessariamente com uma grande componente assistencialista, deve visar garantir que a miséria não seja realidade em nenhuma
vida humana. A segunda fase, a mais importante a longo prazo, deve passar por um trabalho de mudança de mentalidades e aquisição de competências que seja transversal a todas as estruturas de apoio, incluindo assistência social, escolaridade e formação profissional.

Um terceiro desafio para a economia Madeirense é o do crescimento económico. Uma fasquia mínima seria manter uma taxa de crescimento da produção de riqueza a um nível superior a 1,5% ao ano. A RAM está de parabéns no campeonato nacional do crescimento económico, pois a Série Retrospectiva das Contas Regionais para 1995-2018 permite concluir que a taxa média anual de crescimento nesse período foi de 1,8%, a mais alta de todas as regiões Portuguesas, e 38% acima da média nacional de 1,3%. Porém, mais ambição é possível, recomendável e saudável. O desafio consiste, portanto, não só em manter a ambição do crescimento económico como, porventura, beber das lições que se podem tirar de exemplos bem-sucedidos a nível mundial, com destaque para os tigres asiáticos insulares, Singapura e Taiwan, que aumentaram  o seu PIB per capita mais de 30 vezes desde 1950, provando que territórios insulares que enfrentam adversidades de todo o tipo podem protagonizar histórias de sucesso no capítulo do crescimento económico.

Um 4.º grande desafio é o da diversificação da atividade económica. A economia Madeirense continua demasiado dependente do setor “Comércio, Transportes, Alojamento e Restauração”. Se é verdade que esse setor deve continuar a ser incentivado, e diria mesmo acarinhado com eliminação da burocracia excessiva e com uma fiscalidade que não seja muito desincentivadora, também é verdade que esse tipo de acarinhamento também urge a setores que, porventura, sejam geradores de emprego com uma maior densidade de qualificações, tornem a RAM menos dependente de um único setor, e deem um forte impulso para um número cada vez maior de empresas que conquistam os mercados internacionais mais competitivos e exigentes. Para este objetivo é ainda fundamental que o trabalho de incubadora de empresas passe a ser cada vez mais regra, cada vez menos exceção. É também possível e recomendável que o Governo Regional faça um trabalho de diversificação das suas receitas, com uma substituição gradual e parcial dos impostos arrecadados ao consumo, ao trabalho e à geração de riqueza (de famílias e empresas) por receitas geradas através de investimentos próprios numa perspetiva de longo prazo.

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