Nos mais variados fóruns em que tenho participado, a maioria dos jovens talentosos no ofício da retórica, são mais burocratas, conservadores e intolerantes do que os seus pais ou avós. Nem sequer estou a separá-los ideologicamente, o diagnóstico é semelhante para os miúdos de esquerda, de direita ou fluídos.

Os jovens comunistas, órfãos da coragem dos que combateram o fascismo, tendem a ser mais dogmáticos do que Cunhal na clandestinidade. Os jovens bloquistas, que já não conheceram Miguel Portas e Francisco Louçã em novo, tendem a continuar presos no punk londrino da década de 1980 ou nos ajustes de conta de uma cultura woke que não faz ideia de quem foi Rosa Luxemburgo e ainda menos do sofrimento dos economicamente excluídos.

Os jovens socialistas ou social-democratas parecem crianças a brincar à política dos grandes, discutem os assuntos dos adultos e esperam ser colocados nos gabinetes, no parlamento, nas câmaras ou numa direção geral. Os jovens do CDS já nasceram velhos e os da Iniciativa Liberal são os mais jovens, mas tresandam a privilégio e os que tresandam a privilégio desejam que se mantenha o statu quo social. Um mundo de ricos e de pobres com a panache dos pobres poderem ser ricos.

Desviei-me um pouco do centro da minha preocupação. Os jovens que fazem política são velhos sem experiência. Não são idealistas, mas situacionistas. Preferem o ressentimento ou o pragmatismo ao sonho. Querem lugares e não o esforço verdadeiro de os conquistar. Ou, então, desejam ser reconhecidos por serem muito corajosos, muito radicais ou muito brilhantes, e não por desejarem mesmo mudar o mundo. Em qualquer discussão política ou associativa são regra geral os mais burocratas e intolerantes. Policiam o pensamento acreditando que estão do lado dos bons e dos únicos detentores da razão, julgam sem julgamento e são máquinas de inclemência inquisitorial.

Este é um dos pontos decisivos para o futuro da democracia. Que jovens serão os jovens do futuro? O que desejarão para si e para o mundo? Que relação terão com os outros, como amarão, como exercerão a amizade e o poder, o que sacrificarão? Os partidos serão importantes nesse caminho, terão de falar a sua linguagem, falar para eles e para o que lhes interessa, oferecer-lhes depois um caminho alternativo, uma proposta que não possam recusar e que não seja ridiculamente mercantil. Não acredito que aconteça. Voltarei ao tema.