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“Os maiores do mundo na transição energética? Falhámos rotundamente”, critica Mira Amaral

Para Mira Amaral, antigo ministro da Energia, uma situação como a que se viveu esta segunda-feira “era expectável que pudesse acontecer porque, um dia, a rede elétrica espanhola poderia ter um percalço, desligava-se a rede elétrica portuguesa e ficávamos sozinhos”.
Cristina Bernardo
29 Abril 2025, 08h26

O apagão da rede elétrica que atingiu todo o território de Portugal Continental esta segunda-feira mereceu severas críticas de Luís Mira Amaral, ministro da Indústria e da Energia nos dois Governos chefiados por Aníbal Cavaco Silva.

Em entrevista na “SIC Notícias”, o antigo governante avançou que a única situação que o deixou surpreendido é que um episódio destes só tenha acontecido agora: “Entrámos no mercado ibérico de eletricidade com Espanha e a partir daí, começou a ser sistematicamente vantajoso, nalgumas horas, importarmos energia elétrica de Espanha e não produzirmos. Temos os nossos geradores parados. Só me admira é que isto tenha acontecido agora”.

Para Mira Amaral, uma situação como a que se viveu esta segunda-feira “era expectável que pudesse acontecer porque, um dia, a rede elétrica espanhola poderia ter um percalço, desligava-se a rede elétrica portuguesa e ficávamos sozinhos”.

“Deixemo-nos de conversas de que somos os maiores do mundo na transição energética. Temos de facto condições espetaculares mas depois, do ponto de vista técnico, falhamos rotundamente”, criticou o antigo ministro.

O ex-ministro Mira Amaral falou das falhas estruturais. “Em Portugal, só duas centrais tinham capacidade de ‘black start’. Acho uma vergonha, num país destes, ter havido às 11h30 um apagão e depois levamos tanto tempo para repor a normalidade da rede – que ainda não está reposta”, afirmou.

As duas centrais elétricas que, em Portugal, têm capacidade de fazer esse “black start” (colocação em funcionamento de centrais de forma autónoma a partir de ausência total de energia) são a da Tapada do Outeiro (que permite abastecer a região do Porto) e a de Castelo de Bode (que abastece a região de Lisboa).

Luís Mira Amaral considera anormal o “tempo que levou a repor a normalidade” e que tal situação constitui “uma falha técnica muito grave do sistema”.

“Acho mesmo que o Governo devia mandar fazer um inquérito”, salientou.

O antigo ministro voltou a lamentar que a recuperação tenha sido lenta. “Tínhamos meios parados que podiam ter entrado em funcionamento mais cedo”

Um corte generalizado no abastecimento elétrico afetou desde as 11h30 de segunda-feira, Portugal e Espanha, que continua sem ter explicação por parte das autoridades.

Aeroportos fechados, congestionamento nos transportes e no trânsito nas grandes cidades foram algumas das consequências do “apagão”.

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