Muito recentemente, e penso que fruto do movimento “Me Too” nos EUA, as temáticas de género começaram a ganhar maior destaque nas suas diversas vertentes. Este movimento, que tem feito correr rios de tinta sobre os casos de assédio sexual ocorridos em Hollywood, abriu a discussão em torno dos problemas de representação da mulher, logo de justiça e, portanto, de voz própria, tal como de defesa da sua posição.

Também ao nível académico se têm levado a cabo uma série de acções, com o objectivo de minorar a situação desigual vivida pelas mulheres na Universidade.

Na última conferência geral da Associação Europeia de Ciência Política (EPSA), pude constatar in loco este esforço de encontrar uma representação feminina dentro da disciplina – neste caso, Ciência Política. Disciplina essa ainda muito dominada pelo género masculino, o que não representa de todo o universo de académicos, em geral, nem sequer de estudantes quando nos referimos ao género.

Não quero aqui falar do que é mais justo ou não, deixo isso para cada um de vós reflectir. Mas quero que pensemos, em conjunto, naquilo que é o contexto em que temos que nos movimentar.

Em Portugal, é certo e sabido que as posições na Universidade são raras. Esta situação não é única, mas existe. Aliás, muito recentemente temos visto as movimentações sobre a precariedade dos investigadores universitários com um debate amplamente promovido pela Associação de Bolseiros da Investigação Científica, mas não só.

Esta precarização não afasta apenas os melhores (ao contrário do que parece ser defendido por alguns), mas prejudica especialmente as mulheres. Salários baixos, part-times, contratos de três ou seis meses em nada contribuem para uma melhoria das condições de vida de toda uma geração.

E porque é que estas situações são mais danosas para as mulheres? Porque, como é do conhecimento de todos, devido a processos de construção social, são ainda as mulheres quem, por norma, tem responsabilidades de cariz familiar. Ainda que exista uma noção social de que aos homens deverá caber a partilha destas funções, a realidade está ainda muito longe de reflectir tal realidade. É mais comum a ideia de que os homens devem “ajudar” (quando uma mulher tem sorte) nas tarefas domésticas, por exemplo, e não tanto partilhar essas funções.

Isto também acontece na Universidade. Ora se já existem poucas posições, o que se me afigura como o primeiro problema, quando finalmente alguém é contratado e, no caso de ser mulher, acaba por ter muito mais recorrentemente funções administrativas e tratar de aspectos laterais relativos ao ensino, e menos funções de decisão e de organização, o que potencia a sua progressão na carreira?

Sabemos que o trabalho feito por mulheres é, geralmente, menos considerado, há muita literatura científica que o demonstra. Assim como sabemos que esta discriminação é clara em termos de diferenciação, mas importa perceber onde isto nos leva. Se as mulheres têm de trabalhar mais e melhor para serem consideradas iguais aos seus colegas do género masculino, algo de errado se passa na nossa sociedade, ou não?

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.