Quando analisamos o problema da demografia, facilmente constatamos que a idade média na União Europeia já é a mais elevada do mundo, e prevê-se que a proporção de pessoas com 65 anos ou mais aumente de 14 por cento, em 2010, para 25 por cento em 2050.

Portugal é dos países mais envelhecidos do mundo, com 159 idosos para cada 100 jovens. É o segundo país mais envelhecido da União Europeia e o quinto a nível mundial. Se nada for feito, em 2060, Portugal terá pouco mais de 8,6 milhões de habitantes e 30% terão mais de 60 anos.

A nossa sociedade tem que, forçosamente, incorporar esta matéria na agenda política. Mas tem, igualmente, que aproveitar o valor acumulado que o envelhecimento dos seus cidadãos lhe pode proporcionar.

Tem-se abordado a transição climática e a transição energética, mas a transição demográfica tem sido esquecida. Tal como, por outro lado, não se tem tido em conta que a designada velhice está a mudar.

Os dados de um novo estudo nacional desmistificam a ideia de que os idosos são todos dependentes, dementes e doentes. Entre os portugueses com mais de 65 anos que vivem nas suas casas, mais de 80% não tem défice cognitivo e mais de 70% é independente nas tarefas diárias.

Mais. Há dados que demonstram a mudança nos hábitos de utilização de tecnologia, nos últimos 20 anos, entre as pessoas mais velhas. Em 2000, 14% das pessoas com 65 anos ou mais eram utilizadoras da internet; em 2019, o valor tinha crescido para 73%. Em 2014, apenas metade dos adultos possuía smartphones, enquanto hoje 81% das pessoas com 60 a 69 anos já o têm.

Também o ativismo social, visto como um dos comportamentos que define as gerações mais novas, mobiliza cada vez mais vários grupos de pessoas acima dos 60 anos.

Viver mais anos está também a ter impacto na relação com o trabalho. Há cada vez mais pessoas que não querem deixar de trabalhar depois dos 60 anos, mesmo que em alguns casos essa opção seja no sentido de realizar projetos que não tinham sido possíveis nas décadas anteriores. Há um capital de experiência acumulado por parte das pessoas mais velhas que é desperdiçado e isso, em termos de sociedade, é grave.

É importante ter em mente que cada indivíduo é único e que os idosos não são exceção. Recordo-me, a propósito, de uma frase atribuída a Clint Eastwood, cineasta e realizador americano: “todos os dias, quando me levanto, combato o velho que se quer instalar em mim.”

Continuemos cada um de nós, e em maior número, a travar esse combate.