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Os principais investimentos da China em Portugal

A China tem reforçado o seu investimento no mercado português, com a banca, energia e seguros no topo das preferências.
11 Setembro 2018, 07h35

A CTG, empresa estatal chinesa, foi fundada em 1993, e está entre as maiores empresas do mundo. Em maio deste ano lançou duas OPAs em Portugal: à EDP e à EDP Renováveis. Recorde-se que em 2012, a China Three Gorges, empresa pública que construiu e gere o projeto hidroelétrico das Três Gargantas, pagou 2.690 milhões de euros por 21,35% da EDP. A CTG, fundada em 1993, está entre as maiores empresas do mundo, com ativos de valor superior a 290 mil milhões de yuans (cerca de 40 mil milhões de euros).

O Estado chinês ficou assim com uma posição estratégica no sector energético português. Na época, os chineses tiveram dificuldade em aceitar que o Governo português aplicasse uma taxa sobre o sector energético, prevista no Orçamento do Estado para 2014 e enquadrada nos compromissos de Portugal com a ‘troika’.
Em outubro de 2013, a China Three Gorges escreveu ao então ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Portas, para transmitir um protesto contra a nova taxa.

Os chineses alegavam que essa taxa violava os compromissos anteriormente assumidos – ao mais alto nível – pelo Governo português. E exigiam que a normalidade fosse mantida, de modo a não afetar o valor da EDP e para que a cooperação entre os dois países se pudesse manter. Por outras palavras, a China Three Gorges pagara um valor superior, pela EDP, devido às garantias que lhe foram dadas pelo Governo, em relação à manutenção da estabilidade regulatória no sector.

A CTG acabaria por aceitar a medida a contragosto, mas o então presidente da companhia, Cao Guangjing, não escondeu o desagrado quando em Fevereiro de 2014 esteve em Lisboa, tendo confessado que o investimento na EDP, embora positivo, não gerou o retorno esperado, devido ao impacto de crise económica e da taxa extraordinária sobre o sector energético.

Em outubro do ano passado, a China Three Gorges, já sob o comando de Lu Chun, ‘chairman’ da companhia, reforçou a sua posição na elétrica liderada por António Mexia, tendo comprado 1,9% da empresa, num investimento de 208 milhões de euros, elevando a sua participação para 23,3%. Este ano lançaram uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) sobre a totalidade do capital da EDP.

Em 2012, outra companhia estatal chinesa entrava numa elétrica portuguesa. Neste caso foi a State Grid que investiu cerca de 290 milhões de euros para ficar com 25% da gestora da rede elétrica nacional REN.

Da banca à aviação

Também a Fosun é um dos principais rostos do investimento privado chinês em Portugal. Comprou a maior seguradora portuguesa, a Fidelidade, e uma das empresas mais conhecidas na prestação de serviços de saúde, a Espírito Santo Saúde, hoje Luz Saúde. Tornou-se acionista maioritário do maior banco privado português, o BCP, e passou a controlar mais de 5% da rede elétrica nacional, a REN.

No mesmo sentido, o grupo Bison Capital, com sede em Hong Kong, adquiriu o Banif – Banco de Investimento. A operação ficou concluída quase dois anos depois de assinado o acordo para a venda. As exigências do Banco Central Europeu (BCE) foram atrasando o processo.

“A Oitante, S.A. informa sobre a conclusão do processo de alienação do Banif – Banco de Investimento, S.A. à Bison Capital Financial Holdings (Hong Kong) Limited”, revelou um comunicado emitido em julho deste ano, que ficou com os ativos do Banif que o Santander Totta não quis adquirir. Ainda no setor bancário recorde-se que a Anbang foi uma das duas finalistas na primeira tentativa de compra do Novo Banco em 2015 que não se concretizou.

Ao mesmo tempo, o sector imobiliário é uma aposta da China, com os chineses a liderarem, por nacionalidades, os vistos ‘gold’ em Portugal. Os media também constam nas apostas, com a empresa de Macau KNJ em tornar-se accionista da Global Media, dona do Diário de Notícias (DN), Jornal de Notícias (JN) ou rádio TSF, entre outros títulos.

Em junho deste ano, o responsável pela área de consultoria financeira da Ernst & Young em Portugal, Miguel Farinha, apontou as infraestruturas como o próximo alvo do investimento chinês em Portugal, após uma visita à China. Assim, apontou os portos de Sines e de Leixões, novos hospitais e a linha ferroviária Évora-Elvas como potenciais alvos de interesse.

Miguel Farinha afirmou, no entanto, que a reduzida escala do mercado português constitui um entrave em atrair maior interesse da China. Contudo, destaca a recetividade de Portugal ao investimento chinês como uma vantagem. A China tornou-se, nos últimos anos, um dos principais investidores em Portugal, comprando participações importantes nas áreas da energia, dos seguros, da saúde e da banca.

Já este ano, o relatório sobre as “Tendências do investimento chinês na Europa”, divulgado pela escola espanhola de ensino superior, ESADE, revela que Portugal teve um rácio de investimento acumulado, ponderado pela sua dimensão económica, de 3,66, apenas ultrapassado pela Finlândia (4,47). Pequim investiu em Portugal um total de 7321 milhões de dólares (6249 milhões de euros) entre 2010 e 2016. Foi o sétimo país europeu que mais investimento direto chinês recebeu a seguir ao Reino Unido (32080 milhões de dólares), Alemanha (18610), Itália (15810), França (12930), Finlândia (10580) e Irlanda (8220).

A HNA é, indiretamente, acionista da TAP, através do consórcio Atlantic Gateway. Já este ano, em entrevista ao Jornal Económico, Miguel Frasquilho explicou que a parceria com a sociedade chinesa “trouxe a possibilidade, através do code share [da rota Portugal China], de a TAP estar já presente no hemisfério oriental, no extremo oriente”.

No entanto, o conglomerado chinês passa por um período financeiro complicado, estando a vender vários ativos para conseguir reduzir a dívida acumulada. A empresa detém atualmente 45% da TAP, para além de quase 10% do Deutsche Bank. Recentemente, vendeu a sua participação de 25% na cadeia hoteleira Hilton Worldwide.

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