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Eltchaninoff: “Os russos são muito bons a criar ficção literária”

Michel Eltchaninoff é um dos convidados da 1ª edição do Festival Espanto, que terá lugar em junho, em Cascais. Doutorado em filosofia, o editor-chefe da revista “Philosophie” partilha com o JE a sua interpretação de dois ‘ismos’ que comandam o mundo: trumpismo e putinismo.
1 Junho 2025, 13h00

O apelido de Michel – Eltchaninoff – não esconde a origem. Os seus avós, maternos e paternos, saíram da Rússia depois da revolução, por volta de 1920. Um deles era padre ortodoxo, o outro oficial do Exército Branco [que combateu as tropas bolcheviques durante a Guerra Civil de 1917-1921]. Emigraram para a Europa Ocidental e fixaram-se em França. Os pais de Michel são ambos de origem russa e, em criança, aprendeu a falar russo antes de saber falar francês.

Em casa, o pai recitava Púchkin, lia-se Dostoievski, Gogol, Tchékhov… A Rússia de Michel era feita de cultura clássica. Com 20 anos, deixou Paris e foi viver para Moscovo (1990-92). Assistiu à queda da União Soviética e, depois, quando regressou em trabalho, em 2003 e 2004, viu o putinismo tornar-se uma ideologia. Escolheu a filosofia como área de estudo e especializou-se em história do pensamento russo. E é com estes instrumentos que reflete sobre o mundo em que vivemos.

Que aspetos identifica como sendo comuns a Putin e Trump?
Do ponto de vista ideológico, há obviamente pontos em comum. Por exemplo, a total aversão ao que hoje se chama wokismo – a ideia de que só há dois géneros e dois sexos, e toda a reflexão sobre a identidade de género – é, para Putin, como ele próprio diz, um crime contra a humanidade. No caso de Trump, [o wokismo] é o inimigo. Este tipo de conservadorismo dos costumes ideológicos é um ponto comum muito forte. O desprezo pela Europa é outro ponto ideológico em comum. Há décadas que Putin considera que a Europa esqueceu as suas raízes cristãs, os seus valores, sendo incapaz de definir a sua identidade. Putin está convencido de que a Europa sofre de amnésia em relação ao seu passado, que se está a abrir ao mundo, em particular aos imigrantes, e que, por isso, está a perder a sua identidade. Mais. Para Putin, há muito que a Europa é vassala dos EUA. E, hoje, as razões do desprezo que Trump, e também JD Vance, mostram pela Europa são as mesmas.

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