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Pagar custou 1,9 mil milhões de euros em 2017. O equivalente a cerca de 1% do PIB

Um estudo divulgado esta segunda-feira pelo Banco de Portugal analisou os custos associados aos métodos de pagamento utilizados em Portugal. Em 2017, foram realizadas 5,6 mil milhões de pagamentos, que implicaram custos na ordem dos 1,9 mil milhões de euros. Pagamentos em numerário foram os que mais contribuíram para os custos sociais associados métodos de pagamentos.
28 Janeiro 2019, 00h00

Na hora de pagar, poucos são os que têm consciência dos custos implícitos que acarreta. Segundo um estudo do Banco de Portugal (BdP), em 2017, estima-se foram realizadas 5,6 mil milhões de operações de pagamentos, cujos custos dos instrumentos de pagamento de retalho em Portugal ascenderam aos 1,9 mil milhões de euros, o que correspondeu a 0,99% do Produto Interno Bruto (PIB) naquele ano.

Dito de outra forma, no total, pagar custou a cada português 185,5 euros. Mas mais de 90% dos custos totais foram suportados pelos comerciantes (48,7%) e pelo sistema bancário (41,6%), que, no estudo, abrangeu sete bancos: o BPI, o BCP, o Banco Montepio, o Santander Totta, a Caixa Geral de Depósitos, o Crédito Agrícola e Novo Banco, representativos de cerca de 82% dos custos totais do sistema bancário. Já os consumidores assumiram 9,7% dos custos totais.

No estudo “Custos sociais dos instrumentos de pagamento de retalho em Portugal”, realizado em junho de 2018, o supervisor bancário apresentou “os custos sociais dos instrumentos de pagamento de retalho em 2017, estimados com base nas perspetivas privadas do sistema bancário, dos comerciantes e dos consumidores”.

Seis em cada dez pagamentos foram realizados em numerário, apurou o BdP. “O numerário destaca-se como o instrumento que mais contribuiu para os custos sociais com os instrumentos de pagamento (57,3%)”, diz o estudo. Ainda assim, foi o segundo método de pagamento mais eficiente para efetuar pagamentos, custando à sociedade 34 cêntimos por operação, à frente dos pagamentos por cartão de crédito (38 cêntimos) e as transferências a crédito (39 cêntimos). Segundo o estudo do supervisor bancário, os débitos diretos constituíram o método de pagamento mais eficiente, custando à sociedade 27 cêntimos por transação. Já pagar com cheque acarreta um custo acima dos 3,5 euros, enquanto pagar com cartão de crédito custa 1,88 euros.

Ainda assim, o BdP explica que “a composição dos custos sociais permitiu ainda apurar o valor a partir do qual um instrumento de pagamento é mais eficiente para a sociedade do que outro”. Para pagamentos abaixo dos 1,58 euros, o supervisor bancário concluiu que pagar em numerário é mais eficiente. E, “acima desse valor, é o cartão de débito o mais vantajoso para a sociedade”.

Pagar custou aos consumidores o equivalente a 0,41% do PIB em 2017

Pela utilização dos métodos de pagamento, os portugueses pagaram 789 milhões de euros, ou seja, 0,41% do PIB. Pagar com cartões custou 478 milhões de euros, enquanto “os custos com numerário totalizaram 212 milhões de euros”, lê-se no estudo do BdP.

Entre os custos suportados pelos consumidores, incluem-se “os encargos associados ao tempo necessário para efetuar o pagamento”, que o BdP estimou em 185 milhões de euros, assumindo maior expressão no caso dos pagamentos em numerário, que representaram 66% dos custos ‘temporais’ para pagar.

No entanto, os pagamentos em numerário foram, a par dos débitos de diretos, os métodos de pagamento com menor valor unitário, cifrando-se nos 6 cêntimos por pagamento. Já os cartões de crédito e os cheques constituíram os métodos de pagamentos mais caros por transação: 2,56 euros e 3,42 euros, respetivamente).

Os portugueses suportaram ainda os custos associados às comissões pagas aos bancos, que ascenderam aos 604 milhões de euros.

 

Bancos tiveram custos de 793 milhões, mas comissões ajudaram a gerar proveitos

Do lado do sistema bancário privado, a disponibilização dos instrumentos de pagamento de retalho custou aos bancos 793,3 milhões de euros, ou seja, 0,44% do PIB, em 2017. Mas os proveitos da banca, neste domínio, superaram os custos, cifrando-se nos 925,4 milhões de euros, o que correspondeu a 0,5% do PIB, em igual período. “Verificou-se, assim, pela primeira vez desde a realização deste estudo, que a subsidiação cruzada entre instrumentos de pagamento foi suficiente para gerar uma situação global positiva de 132,1 milhões de euros, que corresponde a uma taxa de cobertura de 116,7%”, assinala o BdP.

Para o excedente dos proveitos sobre os custos para os bancos em análise, foi determinante “a inclusão das comissões cobradas através dos pacotes de gestão e de manutenção de contas”, concluiu o estudo do BdP. Nos casos dos cartões de débito, pré-pagos, cartões de crédito e transferências a crédito, os proveitos superaram os custos associados em 230%, 110%, 170% e 114%, respetivamente.

Entre 2013 e 2017, a banca nacional tornou-se mais eficiente, depois de ter reduzido 10% o valor dos custos totais e também do custo por cliente bancário. Este último, em 2013, acarretava um custo de 109 euros e baixou para os 98 euros, em 2017.

Entre os métodos de pagamento que acarretam maiores custos para os bancos, encontram-se o numerário, que representa 32% dos custos totais suportados pela banca (255,2 milhões de euros), seguindo-se os pagamentos por cartões de pagamento, que representaram, no conjunto, 45% dos custos assumidos pelo bancos (334,7 milhões de euros).

Comerciantes pagaram a maior parte da ‘fatura’

Para aceitar pagamentos, o BdP estimou que os comerciantes pagaram 1206,4 milhões de euros, o que representou 0,62% do PIB, em 2017. A maioria dos custos resultou do facto de os comerciantes aceitarem pagamentos em numerário, que representaram 58% dos custos totais (702,8 milhões de euros).

A aceitação dos diferentes métodos de pagamento não é indiferente para os comerciantes. “Um dos elementos de custo mais relevante (…) são as comissões pagas aos bancário e às empresas de transporte de valores”, que representaram 25,3% do custo total assumido pelos comerciantes, revela o BdP.

 

Pagamentos em numerário são mais utilizados pelos mais velhos e pelos menos instruídos

Regra geral, os pagamentos em numerário são tanto mais utilizados quanto menor a formação académica dos pagadores. As pessoas que apenas têm a instrução primária, e as que a não têm, utilizaram notas e moedas para fazerem pagamentos em 90% e 97% das vezes, respetivamente. No plano oposto, os doutorados apenas pagam em numerário 56% das vezes, enquanto os detentores de um mestrado o fazem-no 57% do tempo. Quanto ao uso do cartão débito, ambos utilizam-no 27% das vezes para efetuarem pagamentos.

Por idade, são os mais velhos que recorrem aos pagamentos em numerário. Os cidadãos entre 65 e 74 anos pagam com notas e moedas 85%. Nos outros escalões de idades analisados pelo BdP, a percentagem de utilização do numerário oscila entre os 61% e os 67%. Os que mais utilizam o cartão de débito têm entre 25 e 34 anos, e os que mais utilizam o cartão de crédito têm entre 55 e 64 anos.

 

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