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Países das Caraíbas vão recolher óleos alimentares usados reciclados com tecnologia portuguesa

Em causa está a instalação de mil oleões inteligentes desenvolvidos pela Hardlevel, uma empresa de Vila Nova de Gaia, que vão servir mais de um milhão de habitantes a residir em três países – Guiana Francesa, Guadalupe e Martinica.
29 Dezembro 2020, 19h58

Três países das Caraíbas e da América Central – Guiana Francesa e as ilhas de Guadalupe e da Martinica – vão recolher óleos alimentares usados que vão ser reciclados com tecnologia portuguesa.

Em causa está a instalação de mil oleões inteligentes desenvolvidos por uma empresa de Vila Nova de Gaia, que vão servir mais de um milhão de habitantes a residir nestes três países e onde, até agora, a recolha de óleos alimentares usados domésticos é absolutamente inexistente.

“O início da recolha de óleos alimentares usados (OAU) na Guiana Francesa, Guadalupe e Martinica, países caribenhos pertencentes ao território da França Ultramarina, vai realizar-se com recurso a tecnologia desenvolvida em Portugal, fruto de uma parceria estratégica estabelecida entre um parceiro local – L´Americano Recycledom – e a Hardlevel, líder nacional na gestão e pré-tratamento de OAU e um dos maiores players europeus do setor”, assinala um comunicado da empresa nacional.

Segundo este documento, “a utilização da tecnologia da Hardlevel visa a implementação de um sistema inteligente de recolha de OAU, através da instalação, já em 2021, de mil ‘oleões inteligentes Smart S+’ distribuídos por todo o território daqueles países caribenhos, destinados a servir uma população de 1,1 milhão de habitantes”.

“Até ao momento, a recolha e gestão de OAU produzidos pelas famílias a habitar nestes territórios é, à semelhança do que acontece em grande parte do mundo, absolutamente inexistente. É expectável que, em 2022, esta operação permita alcançar uma redução de cerca de três mil toneladas de CO2e [dióxido de carbono equivalente], por via da captação de mais de mil toneladas de OAU que, até à data, têm com destino o saneamento e ETAR locais”, explica Salim Karmali, administrador da Hardlevel.

O mesmo responsável esclarece que a Hardlevel já trabalhava com este parceiro local, a L´Americano Recycledom, há algum tempo, recebendo os OAU provenientes das grandes cadeias de hotéis no Caribe Francês.

“Tendo em vista estender a recolha de OAU ao sector doméstico, o nosso parceiro acabou por ficar rendido ao sistema inteligente de recolha da Hardlevel e às múltiplas sinergias e interações que o sistema permite entre os municípios e os cidadãos. Posteriormente, os OAU recolhidos serão encaminhados para as instalações da Hardlevel em Roterdão, para que, após serem submetidos a pré-tratamento específico, possam ser transformados em biocombustível”, acrescenta Salim Karmali.

Por sua vez, Patrice Ibene, sócio-gerente da L´Americano Recycledom, realça o impacto que a implementação desta solução terá na vida dos cidadãos de Guadalupe, Martinica e da Guiana Francesa, “onde não existe, ainda, qualquer tipo de solução para as famílias realizarem o correto e sustentável descarte de OAU nas suas casas”.

“Este modelo de gestão de OAU é efetivamente uma solução altamente disruptiva, pela sua vertente de sensorização e otimização de rotas, eficiência logística e diminuição da pegada de carbono. É altamente provável que, em breve, as nossas ilhas caribenhas vizinhas, nomeadamente Saint Martin e Saint-Barthélemy, queiram adotar esta solução nos seus territórios”, destaca este responsável.

Recorde-se que, em 2017, a Hardlevel foi responsável pela criação da RENO, a primeira rede organizada de recolha de OAU, que através de contentores equipados com sensorização IoT (Internet of things), permite aos municípios a interação com os cidadãos.

“Nas Caraíbas, tal como em Portugal, o sistema de recolha dos OAU vai possibilitar que, via telemóvel, os municípios e os cidadãos possam aceder à plataforma digital RENO, onde é possível rastrear os depósitos de forma individual e/ou por agregado familiar, conhecer a localização dos oleões, aceder à capacidade disponível dos mesmos em tempo real, bem como contabilizar os greenpoints – pontos recebidos pelos cidadãos em função das quantidades de óleo depositadas e que poderão, se os municípios assim o entenderem, ser trocados por prémios no âmbito, por exemplo, de passatempos e sorteios promovidos ao abrigo de campanhas de sensibilização”, adianta o referido comunicado.

Refira-se que, além do desenvolvimento do negócio nos países do Caribe, a Hardlevel está a equacionar reforçar a sua atividade no continente americano, encontrando-se já em negociações com alguns potenciais parceiros na América Latina e América do Norte.

“Esta parceria faz parte de um processo estruturado de expansão do modelo de negócio da Hardlevel na área das ‘Smart Cities’, nomeadamente no que respeita à gestão de resíduos inteligentes para além das fronteiras do território europeu. Aproveitamos este ano atípico para estudarmos cidades e países com enorme potencial, quer pela sua dimensão da sua população, quer pela sua preocupação e compromisso com uma efetiva redução da pegada de carbono e utilização sustentável de recursos”, adianta Salim Karmali.

Com capital 100% português e sede em Vila Nova de Gaia, a Hardlevel foi fundada em 2006, sendo detida na totalidade pelos irmãos de ascendência indiana Karim e Salim Karmali.

Além da atividade em Portugal, a empresa detém centros logísticos e empresas subsidiárias em Espanha, na Holanda, Bélgica e Malásia, através dos quais exporta OAU com especificações premium para as principais fábricas de biodiesel e refinarias de biocombustível nacionais e europeias.

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